Image
O vice-presidente Pedro Aleixo, que foi líder do governo Jânio na Câmara (Foto: O Estado de Minas)

A respeito da versão sobre a renúncia do ex-presidente Jânio Quadros, divulgada recentemente por uma revista, o presidente do Congresso Nacional e vice-presidente da República, sr. Pedro Aleixo, declarou que “agora, em face da explicação publicada, está reconhecido que a renúncia não era o fim, mas seria um meio para alcançar objetivos nunca antes proclamados”.

O sr. Pedro Aleixo, com a autoridade de quem foi o líder da maioria [na Câmara dos Deputados] durante o governo do sr. Jânio Quadros, assim se expressou a respeito do assunto: 

“Até quando se tornou público o trecho do capítulo VIII, do sexto volume da História do Povo Brasileiro, que vem sendo escrita por Jânio Quadros e Afonso Arinos de Melo Franco, tinha-se como certo que as razões da renúncia eram as constantes do documento deixado com o ministro [da Justiça de Jânio] Pedroso Horta e referido na sucinta mensagem endereçada ao Congresso Nacional, em 25 de agosto de 1961. 

Deste modo, o ato de resignação era o encerramento de um episódio político, era o fim antecipado de um governo, era o reconhecimento de que tinham sido baldados os esforços para que a Nação fosse conduzida “pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica”, porque “invencíveis e esmagadoras eram as terríveis forças da reação”.

Não era o fim

“Agora”, prossegue o sr. Pedro Aleixo, “em face da explicação publicada, está reconhecido que a renúncia não era o fim, mas seria um meio para alcançar objetivos nunca antes proclamados. Assim, mediante a renúncia, criava-se no Brasil uma oportunidade para que as Forças Armadas montassem novo regime, dentro do qual o próprio resignante ou um outro cidadão – escolhido por qualquer via – iria exercer a Presidência da Nação e executar uma reforma institucional”.

“Tem-se, na versão recentemente divulgada, a informação de que havia sido concertado um plano e que foi devido à vacilação dos chefes militares que o plano concertado falhou. Tal versão para muitos não será uma revelação, pois nela hão de ver apenas a confirmação do que vinha sendo, a propósito da renúncia, insinuado de acordo com presunções, indícios, indiscrições e confidências.”

Image
Jânio, ainda presidente, em seu gabinete no Planalto ( Foto: @Agência Globo)

Defesa do Congresso

Afirmou ainda o sr. Pedro Aleixo: “É admissível considerar-se que estamos apenas em face de conjecturas. Não nos cabe negar a verossimilhança e muito menos a sinceridade das razões oferecidas como causa ou inspiração da renúncia. De qualquer modo, julgo ser meu dever repetir o que, em entrevista por mim concedida na época da renúncia, procurei demonstrar: a Câmara dos Deputados de então não estava criando embaraços à tramitação de projetos de reformas fundamentais exigidas pelo País.”

“Ademais”, concluiu o sr. Pedro Aleixo, “ao longo da minha vida pública formou-se em mim uma convicção, que cada vez mais encontra correspondência nos acontecimentos políticos de que sou testemunha ou participante: não será jamais dissolvendo ou suprimindo o Congresso, apesar de seus erros, vícios e defeitos frequentemente noticiados e censurados, que se poderá encontrar a imaginada fórmula de um regime que venha a realizar os ideais de justiça social, de bem-estar e de progresso do povo brasileiro”.

Image
Documento original da matéria publicada © Reprodução

Golpe de Estado

O sr. Carlos Lacerda, que se encontra atualmente nos Estados Unidos, enviou a amigos seus no Rio, telegrama a propósito da notícia de que o sr. Jânio Quadros teria confessado que sua renúncia em 1961 visava a golpe de estado.

Diz o telegrama do sr. Carlos Lacerda:

“Esperei seis anos, porém acabo de ver confirmado que evitei uma ditadura em 1961. Agora tem o Brasil a confissão clara pela qual sofri tanta injúria e incompreensão”. 

Lembra o ex-governador da Guanabara que, na véspera da renúncia, denunciara ao País, pela TV, o que se passava em Brasília. Hoje o sr. Jânio Quadros estaria confirmando aquela denúncia.

(Reportagem publicada por Ricardo Setti, de Brasília, no jornal O Estado de S. Paulo sob o título original e pouco explícito de “Como Aleixo vê a renúncia” . Os títulos das matérias eram escritos pelos redatores na sede do jornal)

DEIXE UM COMENTÁRIO

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *