Folhagem que assumiu a forma de uma borboleta. Lago do Parque Zoobotânico anexo ao Museu Emílio Goeldi, Belém (PA)

Não foi certamente por puro acaso que a primeira imagem a revelar-se diante dos olhos daquele menino de 4 anos, na penumbra mágica do laboratório fotográfico em que entrava pela primeira vez, tivesse sido a de uma árvore.

“Extasiado”, como ele próprio se descreve, ao debruçar-se várias décadas depois sobre essa lembrança, o menino José Pinto veria naquele momento traçados sua vocação e seu destino profissional — ser repórter fotográfico, tal qual o pai, os irmãos e mais tarde os filhos e vários outros parentes — e teria uma espécie de antevisão do que seria seu grande sonho: registrar, com minúcia, carinho e competência, a natureza, a gente e os problemas de sua Amazônia natal.

Este livro esplêndido, resultado de mais de 80 mil quilômetros percorridos no interior da maior floresta tropical do planeta em mais de três décadas de trabalho paciente e primoroso de José Pinto e seu irmão Pedro, é o desfecho natural daquele momento especialíssimo, vivido há mais de 70 anos. Constitui, desde já, um patrimônio do fotojornalismo brasileiro, à altura do colosso que eles tão fielmente retratam.

José Pinto, falecido em 2019 aos 89 anos, foi radicado em São Paulo desde 1952, mas nunca deixou de levar seu Pará no coração e nem de tê-lo na sua objetiva, ao lado dos demais Estados da região Amazônica.  Entre outros veículos da imprensa, trabalhou nas extintas revistas O Cruzeiro e Manchete, teve passagem pela TV como câmera, atuou no extinto jornal Última Hora, em O Estado de S.Paulo e em diferentes revistas da Editora Abril. Era querido e respeitado.

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José Pinto: uma vida dedicada à sua região natal, a Amazônia (Foto: @Arquivo Pessoal José Pinto

O trabalho sobre a Amazônia, a ser transformado num livro de 900 páginas — a obra, ainda sem título definitivo, está sendo negociada  pelo filho com editoras –, é uma realização pessoal, bancada pelo próprio bolso, realizado em férias e intervalos entre empregos, e para cujo financiamento Zé Pinto, como o chamam os amigos, chegou a vender propriedades e um carro. “Nele, procuro mostrar a região sob o prisma do povo amazônico, seu cotidiano e o esforço para conjugar a preservação da floresta com o desenvolvimento sustentado”, disse o fotógrafo.

Embora seja um livro de fotos, José Pinto colheu para a obra mais de 250 depoimentos sobre a região, entre poetas, cientistas, escritores, jornalistas, ambientalistas, militares e dirigentes políticos, entre os quais o antropólogo Darcy Ribeiro, o geógrafo Aziz Ab’Szaber, o escritor Rubem Braga, os sertanistas Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas, o bibliófilo José Mindlin e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff.

Desfrutem algumas das fotos magníficas que constarão do livro, selecionadas pela editora de Fotografia de VEJA, Gilda Castral, que confessa: “Sofri muito para escolher algumas em meio a tantas fotos primorosas”.

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Samaumeira, conhecida como a Árvore Sagrada da Amazônia,  Macapá (AP)

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Cipós retorcidos — o poder da metamorfose amazônica. Em algum ponto do Estado do Amazonas

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Mangueira, quintal de uma residência, Belém (PA)

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Samaumeira: com 60 metros de altura, 3,5m de diâmetro, a árvore torna pequena a figura do caboclo que escala sua base

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Tracajá repousa sobre um jacaré, lago do Parque Zoobotânico anexo ao Museu Emílio Goeldi, Belém (PA)

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Ribeirinha com filhos gêmeos, feliz por escapar da cheia do Rio Amazonas e conseguir abrigo, Bragança (PA)

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Teia de aranha na Floresta Amazônica, em algum ponto do Estado do Acre

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A chuva das três da tarde e o Teatro da Paz, Belém (PA)

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Mercado Ver-o-Peso, entreposto pesqueiro e ponto turístico, Belém (PA)

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Trecho do Rio Amazonas, rumo ao Amapá

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Ossatura do peixe gurijuba. Sua bexiga natatória possui propriedades medicinais e aplicações industriais. Ele é tido pelos ribeirinhos como sacramento da presença de Deus Pai nas águas do rio, pois seus ossos lembram Jesus crucificado

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O homem amazônico: catador de caranguejos saindo de um manguezal próximo a Belém. Na sua boca, uma “parranga”, ou “porronga” – um cigarro de maconha do tamanho de um charuto

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Casa de ribeirinhos às margens do Rio Amazonas, cercanias de Macapá

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Sítio de mineração desativado. O homem passou por aqui, e deixou veias abertas. Serra do Manganês (AP)
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O sertanista Orlando Villas-Bôas, em sua casa em São Paulo, em 2001. Orlando e seus irmãos Cláudio e Leonardo, segundo José Pinto, “estão eternizados nos murmúrios dos rios, das cachoeiras, na generosidade das chuvas”

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Mãe indígena amamenta o filho, São Gabriel da Cachoeira (AM)

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A cabocla e os filhos sorriem depois de recolher doações lançadas pelos viajantes do barco “Bom Jesus”, navegando pelo rio Salvadorzinho entre Belém e Macapá

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O mimetismo é a forma de proteção da borboleta contra os  predadores. Cercanias de Manaus

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Vitória-Régia, Manaus

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Festa folclórica do Boi-Galheiro, cercanias de Vigia (PA)

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Família de ribeirinhos, liderada pela matriarca Gregória, chegam à sua residência, Ananindeua (PA)

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A ribeirinha Gregória  e a família em sua residência, Ananindeua (PA)

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Uma das filhas da matriarca Gregória, grávida do garoto Douglas, rio Caraparu (PA)

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O garoto Douglas, agora com 6 anos, puxa a canoa, rio Caraparu

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Garoto guarani em algum ponto do Pará

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A Floresta em Chamas. Uma fusão digital de imagens que mostra um jacaré consumido pelo fogo. A criação do artista não rivaliza com a realidade

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16 Comentários

Ariani Carneiro em 15 de julho de 2024

Que belas imagens. Verdadeiras. Impactante do jacaré. Pena não tê-lo conhecido... É verdade, cara Ariani. O Zé Pinto, como todo mundo o chamava, era um gênio da fotografia, um homem de incrível sensibilidade -- e como toda pessoa realmente fora de série, era de uma modéstia comovente.

Ricardo Rosa Lima em 12 de setembro de 2018

Trabalho belíssimo! Como consigo falar com José Pinto? Gostaria de receber a resposta por e-mail. Caro Ricardo, Infelizmente não é possível enviar resposta por e-mail. O contato que tenho com o José Pinto é antigo. Quem respondia era seu filho. O email: fotojosepinto@gmail.com Desejo-lhe boa sorte.

Ola Ricardo. Pode mandar um email para Jeronimosampa@hotmail.com Sou filho do jose pinto Abs Caro Jeronimo, Já enviei. Mande um abraço carinhoso para seu grande Pai. Outro pra você.

Setti
Pedro de Orléans e Bragança em 22 de março de 2014

Prezado Sr. Ricardo Setti, parabenizo o colunista com entusiasmo pela publicação desta formidável peça jornalística, dando a conhecer a um público maior a obra de um autêntico e talentoso artista brasileiro. É de se imaginar que, na enormidade e na variedade da floresta amazônica, olhos sensíveis, como os do fotógrafo José Pinto - a quem, confesso, não conhecia -, tenham uma miríade de belas imagens a registrar. A inclusão de assuntos diversos neste seu espaço, ao lado de temas mais candentes da vida nacional, conferem a ele uma riqueza que demanda sua leitura constante.

Confesso que também não conhecia este magnifico fotografo até agora em 2018. Vendo uma matéria do ano de 1963 do dia 17 de Agosto na Revista O Cruzeiro e vendo uma foto deste fotografo na coluna "AS REPORTAGENS DE BOLSO" onde mostra minha cidade, São Manuel - SP no dia de Corpus Christi, me encantei a ponto de pesquisar sobre ele. Quantas surpresas a respeito de seus trabalhos, verdadeiro talento das lentes fotográficas ...as imagens diz tudo. Fantástico!

Setti
cacalo em 22 de março de 2014

tive o prazer de trabalhar com ele. a par da comppsição das fotos, o que sempre impressionou os colegas é o foco das fotos, tanto que o apelido dele é zé do foco.

FÁBIO CARDIM em 22 de janeiro de 2014

Sujeito talentoso! Lindas fotos, num lugar incrível! Tive a oportunidade de passar 1 mês nessa região e sinto imensa saudade. Ter provado todas as iguarias (ahhh o tacacá!) conhecido tribos, é algo inesquecivel. Porém, inesquecivel mesmo foi ter provado o veneno do sapo. Experiencia única ter três pontos no braço queimados por uma pequena brasa e depois ter o veneno do sapo passado na região. Foram 12 horas de purificação, limpeza corporal... uma viagem única! Quero voltar!!!

Dulce Regina em 02 de janeiro de 2014

Fotos belíssimas. Me chamou atenção a -ossatura do peixe gurijuba- linda e representativa. Se pudesse, teria uma. Quem sabe ? Nada é impossível. Li que ele já tem o livro e o título, está a espera de quem publique. Reynaldo, excelente sua "dica". Já vou tirar uma idéia , - a dos armários no vão da escada. Achei genial.

Kitty em 31 de dezembro de 2013

Querido Ricardo, um belo presente que a natureza nos prodiga! Difícil escolher uma em detrimento das outras...Todas são fantásticas nos mínimos detalhes...Um abraço, Kitty

RUDEMAR em 27 de novembro de 2013

fotos muito ricas em detalhes parabems

Reynaldo-BH em 27 de novembro de 2013

Setti, para vc que gosta de criatividade. http://estadodeminas.lugarcerto.com.br/app/noticia/noticias/2013/11/27/interna_noticias,47697/conheca-grandes-ideias-de-design-que-tornam-o-morar-uma-experiencia-me.shtml Valeu, caro amigo. Muito interessante! Abração

Vera Scheidemann em 27 de novembro de 2013

Maravilha ! Beleza pura ! Parabéns ao autor ! Vera

Alex Wie em 27 de novembro de 2013

Nossa, parabens ,de muito bom gosto. Mostra as belezas de nossa terra brazilis. Mas isto não da muito ibope, infelizmente.

jussara de souza sholl em 26 de novembro de 2013

qual é o titulo do livro??? O livro ainda não foi publicado e o título ainda não está escolhido. Abraço

Maria Augusta em 26 de novembro de 2013

Uma é mais linda do que a outra. Parabéns, José Pinto.

Cau Marques em 26 de novembro de 2013

O mundo é maravilhoso! O que estraga são os políticos...

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