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A vazia  Nova York de Duane Michals (Fotos: @Duane Michals)

Nova York que é uma dessa cidades cidade “que nunca dorme”.

Pois o veteraníssimo fotógrafo americano Duane Michals, em cujo currículo figuram colaborações com publicações do porte de The New York Times e Life, descobriu, já nos anos 1960, que não é bem assim. Utilizando as primeiras horas das manhãs de domingo, ele saía para zanzar pelas ruas da Grande Maçã com o objetivo de captá-las totalmente vazias.

Era cansativo mas, em tempos bastante anteriores aos Photoshops da vida, para não falar dos lockdowns provocados pela pandemia da Covid-19, ele conseguia clicar com suas lentes uma metrópole que sim, dava pelo menos os seus cochilinhos.

Intitulada Empty New York (“Nova York Vazia”), esta série de fotografias produzidas há cinco décadas por Michals, nascido em 1932, não perdeu nada de sua estranha melancolia e artística beleza. Contemplar ruas, lojas, pontes e até vagões de metrô sem uma pessoa sequer, em se tratando da sempre frenética Nova York, gera uma sensação quase única.

Segundo o próprio autor, a inspiração para o ensaio veio de parte da obra de Jean Eugène Auguste Atget (1857-1927), fotógrafo francês que realizou trabalhos semelhantes em Paris.

“Fiquei tão encantado pela intimidade dos lugares fechados, das ruas e das pessoas fotografadas por ele que me vi observando uma Nova York do século XX com olhos do século XIX”, afirmou Michals em antiga entrevista a respeito de Empty New York.

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DuaneMichals7Este post foi originalmente publicado no blog que mantive no site da revista VEJA entre setembro de 2010 e março de 2015 e devidamente atualizado

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3 Comentários

Vandergleyson em 24 de agosto de 2014

Setti, permita-me sugerir o trabalho fantástico desta jovem artista australiana: www.instagram.com/cj_hendry Belíssimo, mesmo. Obrigado pela dica! Abração

Vandergleyson em 23 de agosto de 2014

Lembra um Henri Cartier-Bresson mas sem o estilo candid photography, sem o lado humano.

MILTON SIMON PIRES em 23 de agosto de 2014

Aristóteles e o Balde de Gelo – A Caridade na Condição de Acidente. Milton Pires “Untraceable” (que chegou ao Brasil como “Sem vestígio”) é um filme americano de 2008. Não cabe aqui fazer uma resenha, elogio ou crítica dele. Digo apenas que trata-se de uma situação em que uma agente do FBI precisa encontrar um assassino serial cujo “modus operandi” consiste em transmitir a execução de suas vítimas pela internet. Ele faz aquilo que se chama popularmente de “streaming” das execuções e, numa lógica perversa, a vítima morre mais ou menos rapidamente de acordo com o número de acessos dos visitantes da página. Seis anos depois do lançamento do filme, uma campanha cujo objetivo é levantar fundos para pesquisa e tratamento de uma doença chamada esclerose lateral amiotrófica (ELA) tomou conta da rede mundial de computadores. Conhecida como “Ice Bucket Challenge” (desafio do balde de gelo) ela consiste na divulgação de vídeos curtos em que pessoas famosas pelos mais diversos motivos aceitam ter um balde de gelo e água derramados sobre suas cabeças em “prol das vítimas da ELA”. Uma vez filmadas, o vídeo entra para internet. Assistindo o vídeo, você estará contribuindo para “pesquisa da cura da ELA”. Antes de escrever esse pequeno artigo, procurei fazer na internet um levantamento das manifestações contrárias à “mania do balde de gelo”. Algumas são hilárias: li por exemplo que “água está sendo desperdiçada”..li sobre eventuais “reações vasovagais (termo da fisiologia) que podem tornar um banho gelado perigoso” ..enfim: li tanta besteira que percebi finalmente a chance que todas elas forneciam à algumas pessoas (algumas delas inclusive neurologistas que atendem pacientes vítimas da ELA) de bradar à plenos pulmões: “Milton, antes de criticar lembre: a campanha está funcionando! Dinheiro está sendo levantado! Pesquisas (na verdade pesquisas com embriões..rsss..mas isso é outro assunto) estão sendo financiadas!” Confrontado com essa última frase que traz em si o peso dos fatos e não das opiniões, a chance de que qualquer pessoa possa permanecer contra o “desafio do balde de gelo” parece ínfima, não parece?? Quem, com um mínimo de vontade de ajudar pessoas doentes, com “responsabilidade social” poderia ainda se opor?? Meus caros amigos, quando escreveu “Ética a Nicômano”, Aristóteles deixou claro que virtude é a disposição de um indivíduo de praticar o bem; e não é apenas uma característica acidental da ação. trata-se de uma verdadeira inclinação: virtudes são todos os hábitos constantes que levam o homem para o caminho do bem. Há diferentes usos do termo relacionado à força, à coragem, ao poder de agir, à eficácia de um ato ou à integridade da mente. Quando li o que foi escrito como crítica à campanha do balde do gelo, não encontrei em parte alguma referência às intenções daqueles que assistem os vídeos. Encontrei elogios àqueles que se submeteram ao desafio, mas nenhuma observação sobre quem foi assisti-lo na internet. Vocês sabem por quê? Respondo eu o seguinte: porque a GIGANTESCA maioria das pessoas que foi ver esse tipo de estupidez não tinha a mínima intenção de ajudar ninguém com ELA, infarto agudo do miocárdio ou hemorroidas. Não passam de milhões e milhões de pessoas que, não querendo permanecer isoladas, diferentes ou desinformadas..não querendo ficar “por fora” do que “rola” na web “precisavam ver o vídeo” em que Bill Gates, Gisele Bundchen ou George Bush ficavam aparentemente, sem sentido algum, ensopados. Quando terminei o parágrafo acima, não pude deixar de me colocar na posição de leitor..no espanto de quem lendo aquilo pensou com seus botões: temos aqui uma pessoa (mais grave ainda: um médico como o Milton) que não acredita mais na bondade...que já não crê mais no sentido da caridade e da boa ação e, tomado de mágoa com o resto da humanidade, já não pode mais aceitar que existam pessoas de bem. Para esses, minha resposta há de ser – essa sim – um verdadeiro “balde de gelo”. Creio em Deus Nosso Senhor e, por nele acreditar, aceito acima de tudo a bondade e a caridade como características fundamentais do ser humano. Não vejo, em toda teoria que se construiu a respeito do “mal em si” mais do que um acidente..mais do que um internauta do filme de 2008 que, sem vontade de matar, acelerou a execução que era transmitida pela internet. Lembro, por outro lado, que nos encaminhamos para um mundo em que o inverso pode acontecer..um mundo em que alguém, supostamente, pode praticar o “bem sem querer”..e que nesse “bem sem querer” eu jamais vou acreditar pois diz minha fé que o verdadeiro bem implica, como Aristóteles deixou sugerido ao seu filho (e mais tarde Kant), o “querer”..que a “boa ação nasce da boa intenção do seu agente”. Penso eu que se um dia esquecer do que escrevi, vou acreditar que toda verdadeira caridade – que deve ser sempre feita em silêncio – pode não passar de um evento comum num mundo mais comum ainda ..num mundo que é, ele mesmo, um balde de gelo e onde impera, dois mil anos depois de Aristóteles, a Caridade na Condição de Acidente. Porto Alegre, 23 de agosto de 2014.

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