Kamala Harris: sua entrada no páreo energizou o Partido Democrata, mas ela tem vulnerabilidades (Foto: @The India Times)

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Kamala com Biden: o presidente que a indicou como candidata promete fazer campanha para derrotar Trump (Foto: @The White House) (@Foto: AP)

A luta contra Donald Trump não será fácil, mas a vice-presidente Kamala Harris começou de maneira avassaladora sua campanha para a Presidência dos EUA antes mesmo da convenção do Partido Democrata, em agosto, demonstrando competência e firmeza. Aos 59 anos, 19 menos do que Trump, sua irrupção energizou de forma notável os democratas.

Passando dez horas consecutivas ao telefone no domingo, e muitas outras ontem, contactando uma centena e meia de personalidades do partido e financiadores de campanha, conseguiu o apoio de mais do que os 1976 delegados necessários para obter a maioria absoluta na convenção e arrecadou mais de 100 milhões de dólares – o dobro do que Trump, mesmo a todo vapor, obteve no mesmo período, segundo informou hoje cedo seu comitê.

Importante: 62% dos doadores – 1,1 milhão de eleitores – contribuíram pela primeira vez, e nada menos do que 30 mil democratas de todo o país se somaram ao batalhão de voluntários que já trabalhavam para a reeleição do presidente Biden (e Kamala como vice).

O apoio dentro do partido se constituiu numa proeza: todos os 23 governadores democratas se manifestaram, assim como a grande maioria dos 50 senadores (o Senado tem 100 parlamentares) e 213 deputados (a Câmara de Representantes tem 435 deputados).

E figuras de peso foram na mesma direção, começando, naturalmente, pelo presidente Biden, que prometeu uma intensa participação na campanha de Kamala, incluindo personalidades como a mais influente parlamentar do partido e ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi (Califórnia), o ex-presidente Bill Clinton e a mulher, Hillary, ex-senadora, ex-secretária de Estado e a candidata que teve mais votos do que Trump em 2016, perdendo contudo no absolutamente obsoleto Colégio Eleitoral, e o muito popular ex-candidato à Presidência Bernie Sanders, senador pelo Estado de Vermont, que se declara “socialista” e tem uma multidão de seguidores entre os jovens.

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O ex-presidente Bill Clinton foi uma dos primeiros grandes nome do Partido Democrata a apoiar Kamala Haarris (Foto: @Susan Walsh/AP)

Também ao lado dela está a mais poderosa central sindical dos EUA, a AFL-CIO, que reúne 60 sindicatos e tem 12,5 milhões de afiliados.

O democrata mais popular do país, o ex-presidente Barack Obama, não deu apoio explícito à candidata, embora tenha agido nos bastidores para que Biden desistisse. Obama pretende se reservar para, no momento certo, jogar seu peso na tarefa de unir o partido e as diferenças forças sociais que lhe deram o voto em 2008 e 2012.

Mas não será absolutamente fácil a tarefa de Kamala dobrar Trump nos meros 105 dias que restam até a eleição de 5 de novembro. Trump já está colocando milhões de dólares de comerciais de TV atacando Kamala nos Estados-chave em que os democratas terão que vencer para chegar à Casa Branca, como Pensilvânia, Georgia, Arizona, Michigan e Wisconsin, em que Biden bateu Trump e nos quais o ex-presidente é no momento o favorito.

Kamala Harris não é bem avaliada pelo que disse, fez e deixou de fazer nos últimos anos. Sua grande vulnerabilidade deve ser o problema da imigração ilegal, já que Biden, como forma de elevar sua importância no governo, encarregou-a de estudar e encontrar soluções para a brutal tensão na fronteira com o México. E Trump, que já bombardeava Biden com  a questão, um de seus temas preferidos, está em terreno conhecido, inclusive para mentir à vontade.

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Trump: sua artilharia pesada foi planejada para um adversário específico, Biden. O trabalho terá que ser refeito com a entrada de Kamala na disputa (Foto: @Gage Skidmore/Wikimedia Commons) (Foto: @Gage Skidmore/Wikimedia Commons)

Trump, que como se sabe não mede palavras – chama a respeitada deputada Pelosi de “maluca”, adjetivo que já usou contra Kamala – começou sua artilharia pesada, dizendo que Kamala será “mais fácil” de vencer do que Biden, que ele criticava pesadamente até perto do insulto, zombando de suas condições físicas e acuidade mental. Mas a campanha do ex-presidente tem o problema de que estava há dois anos preparada para encarar e derrotar Biden, suas condições físicas, seus tropeços e seu legado.

Num post ontem em sua rede social, Truth Social, Trum acusou a mídia de tentar “transformar Kamala Harris, “estúpida como uma pedra” (sic) Kamala Harris “de uma totalmente fracassada e insignificante vice-presidente numa futura ‘Grande Presidente’. Não, isso não vai funcionar!”

O que Trump já disse publicamente da candidata é um indício de como vai tratá-la na campanha. Já a descreveu como “desagradável”, “maluca” e “incompetente”, zombou de sua forma de sorrir, pronunciou de propósito deu nome de forma errada para supostamente fazer graça, e chegou a asssegurar, mentirosamente, que Harris, filha de pai jamaicano e mãe indiana, seria constitucionalmente inelegível para ser, na ocasião, vice-presidente — repetindo a campanha racista que se chamou de “birther” – a alegação que e que o então presidente Barack Obama não tinha nascido nos Estados Unidos.

De todo modo, Trump terá um problema inicial: durante dois anos, sua equipe preparou com denodo uma campanha inteira tendo Joe Biden como adversário – ele seria atacado por sua debilidade física, por algumas dificuldades cognitivas, por medidas que tomou e deixou de tomar, os supostos negócios escusos de seu filho Hunter, além do fato de ter sido condenado por posse ilegal de arma. Biden era o alvo, já tinham virado do avesso sua vida, sua carreira, sua vida pessoal.

Esse trabalho incluiu gastar milhões de dólares em modelos matemáticos e pesquisas de intenção de voto tentando prever resultados nos tais Estados-chave, preparando o que a CNN chamou de “uma sofisticada operação de utilização de dados e preparando uma blitz para comparar os dois candidatos”. Uma campanha, continua a CNN, “construída em torno do fato de que Trump iria enfrentar um candidato de 81 anos cujo estado físico e de cognição tinha se tornado um enorme peso de forma a que os eleitores republicanos deixassem de enxergar as muitas vulnerabilidades e falhas do candidato Reublicano”.

Boa parte desse esforço se tornou inútil, e é necessário dar uma reviravolta completa na operação.

Começando pelo fato de que, como escreveu o jornalista Caio Blinder, agora “só há um velhinho com problemas cognitivos na campanha presidencial dos EUA”: ele, Trump, 78 anos.

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1 comentário

CARLOS NASCIMENTO em 24 de julho de 2024

Ricardo , ouso dizer que vc não admira Trump nem um pouquinho, talvez o viés dos Democratas seja sua primeira opção, respeito isso, mas a atual geopolítica necessita de um líder com capacidade de enfrentar as dificuldades com espírito vencedor, não há espaço para ficar indeciso, o mundo polarizado precisa olhar para os EUA e compreender que as linhas de ultrapassagem serão punidas......... É hora do jogo decisivo, as escolhas precisam ser efetivadas com bastante inteligência, acredito que JFK hoje seria um Republicano com toda certeza. O tempo dirá quem tem razão..............ABRAÇOS. Caro Carlos, você acertou. Não tenho partidos em lugar algum, mas considero o personagem Trump deletério para a democracia e um mau exemplo em várias coisas para o mundo inteiro. Li muito a respeito dele -- acredite, 21 livros. E um dia desses vou expor alguns comentários a respeito. Um abração pra você!

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