Esse pacato e afável senhor de cabelos brancos que aparece na foto grande junto a Kamala Harris num comício hoje em Wisconsin, com 60 anos, pai de dois filhos, professor de escola pública por 20 anos e sargento da Guarda Nacional durante 27 anos um perigoso comunista. Vai ajudar a candidata democrata a presidente, Kamala Harris, a “destruir a América” (os Estados Unidos) e fazer o país caminhar para o comunismo.
É disso que está sendo acusado pelo ex-presidente Donald Trump e seu candidato a vice, o senador J. P. Vance.
Imagine você o que ele andou fazendo em seus quase seis anos como governador de Minnesota:
- Instituiu café da manhã e almoço grátis para todos os alunos de escolas públicas, beneficiando 850 mil crianças e adolescentes (alto percentual para um Estado com 5,7 milhões de habitantes)
- Ampliou, por lei, o número de trabalhadores beneficiados com o pagamento de licença de saúde (antes não havia!) ou em licença para cuidar de alguém da família que esteja doente
- Aumentou a proteção legal para trabalhadores filiados a sindicatos
- Gravíssimo, super-comunista: consagrou em lei o direito das mulheres ao aborto quando considerarem necessário e introduziu também em lei o direito a cuidados psicológicos e médicos a pessoas transgêneras na rede pública de saúde física e mental
- Isentou de impostos os produtos para menstruação e tornou obrigatório que as escolas os coloquem nos banheiros femininos e em prisões
- Mais do que super-comunista: quem quiser comprar uma arma no Estado – direito assegurado pela Constituição – terá que se submeter a uma checagem de seu passado na Justiça (se cometeu atos violentos ou crimes, por exemplo) limpa
- Outra coisa horrível: conseguiu passar no Legislativo de Minnesota a meta de ter 100% da eletricidade usada no Estado proveniente de fontes limpa
A extrema radicalização política nos Estados Unidos faz com que esse conjunto absolutamente razoável – na verdade, desejável e muito positivo, à parte a discussão sobre liberaão ou não do aborto livre – de medidas sirva para que os adversários republicanos, Donald Trump e seu vice J. D. Vance considerem a chapa democrata um perigo para a democracia no Estados Unidos – justo ele, Trump, que inspirou e incentivou, a 6 de janeiro de 2020, a rebelião criminosa contra a eleição do presidente Joe Biden com a invasão e depredação das outrora sagradas instalações do Capitólio, sede do Senado e da Câmara de Representantes dos EUA.
A escolha de Kamala foi uma surpresa para muitos de seus próprios partidários, pelo fato de Walz não ser conhecido nacionalmente e de que o popularíssimo governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, um dos cogitados para o posto, poder melhorar as chancese de os democratas vencerem neste Estado-chave e carregar consigo os 19 votos que tem no Colégio Eleitoral, que formalmente elege o presidente. Minnesota tem apenas 10 votos.
Harris certamente não levou tanto em conta esses números porque são pouco significativos num Colégio Eleitoral tem 538 integrantes. Preferiu, segundo gente de sua assessoria mais próxima, a química que sentiu com o candidato na entrevista que realizou com Walz, como com outros possíveis nomes, e o perfil do governador de Minnesota: nasceu no Estado rural de Nebraska, trabalhou numa fazenda e morou numa cidade 400 habitantes, o que lhe facilita o diálogo com o mundo rural e o Meio-Oeste americano, que conhece muito bem, onde é conhecido e onde Trump tem muito apoio. É casado com Gwen, também professora, e tem um casal de filhos menores, Hope e Gus.
Dedicou boa parte de sua vida adulta ao ensino público até ser incentivado por seus alunos a entrar para a política. Acabou sendo eleito para a Câmara de Representantes onde, durante seis mandatos (12 anos), foi um deputado moderado e favorável ao diálogo com os republicanos para a aprovação de medidas. Elegeu-se pela primeira vez governador de Minnesota em 2018, e foi reeleito em 2022.
Walz é muito popular em seu Estado, onde tem 65% de índice de aprovação. Ótimo orador, raríssimo caso de político que não usa teleprompter (“nunca acostumei”, diz), tem tido sorte com suas tiradas: antes mesmo de ser escolhido por Kamala para compor sua chapa, chamou Trump e Vance de serem “weirdo” (uma forma muito depreciativa de dizer algo como “super esquisito”), e a coisa viralizou enormemente. Depois, por causa de suas medidas para a menstruação, figuras republicanas inclusive na mídia começaram a chamá-lo de “Tim tampão” – só que iniciativas como as de Walz já foram tomadas em 28 Estados, com aprovação dos próprios republicanos, e o apelido ajudou a popularizá-lo.
Nesse terreno — os direitos das mulheres, especialmente os “direitos reprodutivos” (decidir não ter filhos ou abortar quando a gravidez é por alguma razão indesejada) –, que é um dos grandes temas desta eleição, os republicanos vão mal, e é uma dos principais causas de Kamala e um quase certo tseumani de votos femininos para os democratas.
O vice de Trump, J. D. Vance, tem contribuído para a chapa republicana perder votos. Ele critica todo tipo de aborto, mesmo o resultante de incesto ou estupro, e, a despeito de ser um jovem político de 39 anos, tem restrições também à gravidez induzida. Pois Walz, no discurso feito em sua apresentação ontem em Filadélfia, controu candidamente que ele e a mulher não conseguiram ter filhos durante longo período até que lançaram mão de fertilização in vitro. A primeira criança assim nascida recebeu o nome de Hope (esperança). Depois tiveram o filho, Gus.
Os dados — os primeiros — estão lançados. Faltam menos de 90 dias para a eleição de 5 de novembro.
1 comentário
esta corja trump-bozista é lamentável. aqui tem um deles, lamarçal ou pablo marçal, que declarou ser comunista o bozoide prefeito de são paulo ricardo nunes! pode isto, arnaldo?