(Artigo de Ricardo Setti)
Foi um embate e uma gritaria que nunca tinha ocorrido no Gabinete Oval da Casa Branca diante da mídia, ao vivo – e a humilhação que o presidente Donald Trump e seu vice, J. D. Vance, quiseram impor ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, pareceu uma armadilha covarde: os dois principais políticos do país mais poderoso do mundo, em pleno gabinete do presidente dos Estados Unidos, diante de dezenas de câmeras de TV em transmissão ao vivo puxando a orelha do jovem presidente que há três anos vê seu país ser progressivamente destruído pela ilegal e criminosa invasão de seu território pela Rússia de Putin.
Trump estava tão fora de si que bradava para Zelensky: “Você está brincando com uma Terceira Guerra Mundial!” — esquecido de que quem ameaçou mais de uma vez usar armas atômicas por causa do conflito na Ucrânia foi, justamente, Vladimir Putin.
A visita de Zelensky se destinava a assinar um acordo para que os EUA possam explorar minerais estratégicos do rico subsolo da Ucrânia, mas a recusa de Trump de admitir que Putin era o agressor e suas reticências em abordar a questão das garantias para que futuras invasões russas não possam ocorrer foram cobradas de forma educada, mas firme por Zelensky – quando conseguia não ser interrompido.
Enquanto isso Trump e seu vice cobravam “mais gratidão” pelo auxílio em armas à Ucrânia (sobretudo na gestão Biden). Trump chegou a pegar Zelensky pelo braço e disse e repetiu: “Você não tem cartas (para jogar)”, acrescentando que “ou você aceita o acordo (EUA-Rússia) ou estamos (os EUA) fora”. Não mencionou uma vez sequer a óbvia, inescapável necessidade de a Ucrânia – e seus aliados europeus – se sentarem à mesa para discutir um tema gravíssimo para a segurança da Europa que americanos e russos pretendem resolver sozinhos.
Zelensky não se calou e procurou insistir em que os EUA participassem de um acordo que garantisse a integridade da Ucrânia, e J. D. Vance, invariável adulador de Trump, insistia quase aos gritos que Zelensky tinha que agradecer ao presidente. que por sua vez afirmou: “Sem nós, você não poderia ser um cara duro (no enfrentamento da Rússia)”. É preciso lembrar que os aliados europeus da Ucrânia forneceram dois terços da ajuda recebida pela Ucrânia.
Com a temperatura esquentando, Zelensky procurou não ser interrompido, embora isso ocorresse o tempo todo, mas conseguiu lembrar que Vance, que falava com tanta desenvoltura dos problemas da Ucrânia, nunca havia estado no país.
Trump, que está cada vez mais próximo do agressor Putin e chegou a mentir, dias atrás, ter sido a Ucrânia quem iniciou a guerra, jurou estar “alinhado com a Europa” – tão verdade que o novo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, convocou para domingo uma reunião em Londres com os principais dirigentes europeus para estudar alguma estratégia que ajude a proteger a Ucrânia na hipótese de os EUA continuarem no giro de 180 graus que estão imprimindo à sua política externa, ao aproximar-se de um inimigo histórico e passar a ver como adversários países europeus aliados há décadas a Washington.
Zelensky retirou-se apressado da Casa Branca ao fim do bate-boca e não assinou acordo algum sobre os minerais estratégicos. Não se sabe como vai ficar o tema.
Trump, com o episódio, mantendo a postura imperial que adotou desde que assumiu, incorporou a grosseria, a má-educação e a total ausência de comportamento diplomático ao elenco de truculências que acompanha seu novo mandato. Postura imperial, pela arrogância. Postura de tiranete de Terceiro Mundo, pela grosseria.
8 Comentários
O microfone de aluguel do PSDB na veja nunca decepciona. Olhos fechados para as atrocidades da nossa suprema corte, olhos abertos para vociferar contra governantes democraticamente eleitos, contra Israel e EUA. A turma da veja não decepciona os chefes nunca.
Não sei onde você encontrou alguém da "turma da VEJA" neste site, embora obviamente queira me ofender. Não me atinge, não. Meus posts a respeito de Israel e dos EUA foram e não são "contra' esses países, mas contra as políticas que seus governantes têm adotado. E tenho críticas ao Supremo Tribunal Federal, você não perde por esperar.
SettiExcelente artigo! Análise perfeita do comportamento intempestivo de Trump demonstrando satisfação em humilhar Zelensky. Foi uma cena deprimente.É indiscutível o fato de Trump governar a nação mais importante do mundo mas, por outro lado, é evidente a sua visão estreita de se sentir superior a alguém pelo cargo que ocupa temporariamente.
Cara Sandra, obrigado por sua visita e pelo "excelente". Você está coberta de razão ao dizer da satisfação de Trump em humilhar Zelensky. Foi lamentável e inédito o que Trump protagonizou numa sala em que já trabalharam gigantes da História como Franklin Delano Roosevelt.
SettiExatamente isso. Tiranete de 3o mundo
Obrigado. Bom saber que alguém de seu quilate concorda com o que escrevi. Um abração!
SettiTenho medo desse idiota do Trump
Eu também, querida Mara. Ele é uma ameaça à paz e à felicidade no mundo. É um monstro, um aventureiro sem escrúpulos. Mais do que ele, me assustam os milhões que o adoram. Espantoso!
Setti