A foto comoveu o mundo, rendeu o Prêmio Pulitzer a seu autor, o repórter fotográfico Nguyen Kong Hut [mais conhecido como Nick Ut], da agência UPI, e transformou-se no símbolo de todo o horror da guerra do Vietnã.
Passados dez anos, aquela menina sem roupa, a face desfeita pelo terror, fugindo por uma estrada da explosão de uma bomba de napalm, foi redescoberta pela imprensa ocidental na Cidade de Ho Chi Minh, antiga Saigon, estudando Farmacologia e carregando na pele as sequelas das queimaduras que sofreu em 1972.

Pan Thi Phuc tem, hoje, 19 anos, veste-se com a tradicional calça larga dos camponeses vietnamitas e mora com a mãe. As lembranças de ambas daquele verão de 1972 são terríveis. “As queimaduras sofridas por minha filha fizeram com que seu braço ficasse colado à anca e o pescoço ao ombro. Os médicos levaram meses até puder operá-la”, diz a mãe. Até hoje, as marcas nas costas e braços de Phuc evocam as piores deformações de Hiroshima.
Phuc — que em vietnamita significa “Menina Pequena! — tinha 9 anos naquele verão de 1972 e, como sua família vivia numa zona de combates na província de Tay Ninh, as bombas caíam constantemente à sua volta. Um dia, refugiada num pagode com outras famílias de camponeses, ela viu um bombardeiro americano que se aproximava e começou a correr. A bomba de napalm caiu perto e as chamas surgiram de todos os lados. “Consegui me livrar de minhas roupas, que estavam em fogo, e continuei a correr quase 1 quilômetro”, relembra Phuc. “Só perdi a consciência a caminho do hospital, onde permaneci em estado de coma durante seis meses”.
Decidida a se tornar médica algum dia, a jovem lamenta ter uma saúde frágil e se queixa de dores de cabeça atrozes. “São obstáculos que preciso vencer”, diz ela timidamente. Phuc sabe que, comparada com os 450 mil sul-vietnamitas que morreram ao longo dos mais de dez anos de guerra, seu destino não foi dos piores. “No fundo, já não guardo mais rancores contra os que me infligiram sofrimento. Só espero sinceramente que meu país nunca mais venha a sofrer os horrores de uma guerra”.