“Maldição e Glória: a vida e o mundo do escritor Marcos Rey”

A extraordinária história de Marcos Rey contida neste livro vai lhe proporcionar muito prazer, caro leitor.
Mas também, já no primeiro capítulo, um soco no estômago: ali você ficará sabendo de um segredo terrível, conhecido por pouquíssimas pessoas, capaz de marcar para sempre a vida do escritor e que ele guardou da infância à morte, em 1999, aos 74 anos.
Isso não impediu o autor de Memórias de um Gigolô e O Enterro da Cafetina de ter uma trajetória tão aventurosa e rica quanto boa parte dos enredos que escreveu – quarenta livros, vários com traduções mundo afora, dos Estados Unidos à Finlândia, oito novelas de televisão, cinco peças de teatro, 32 roteiros de pornochanchadas e centenas de programas de rádio e crônicas, 175 delas publicadas, entre 1992 e 1999, na última página da revista Veja São Paulo.
Essa última atividade aproximou Marcos do autor, o jornalista Carlos Maranhão, diretor da redação da Vejinha.
Ninguém mais indicado para investigar o que havia por trás da aparência jovial do homem pequeno e desajeitado, de óculos enormes de lentes grossas, que encerrava um universo de surpresas: tímido, conheceu como ninguém a noite paulistana – boêmios românticos, prostitutas, malandros, cafetões, viciados.
Intelectual, foi capaz de molecagens como, certa vez, planejar roubar a cabeça do cangaceiro Lampião, então exposta num museu da Bahia.
Maranhão, de legendária elegância no texto, é também repórter de faro apurado, inclusive para detalhes preciosos, como o cardápio completo do almoço durante o qual Edmundo Donato – nome verdadeiro e pouco conhecido de Marcos Rey – apresentou à família sua futura mulher, no longínquo ano de 1958.
A tais virtudes, Maranhão alia outra, ainda mais rara: a delicadeza de trato com as fontes. Ela lhe propiciou obter de Palma Bevilacqua, ao longo de 39 anos “motorista, babá, cozinheira, secretária, agente literária, assessora de imprensa, amiga, mãe e mulher” de Marcos, um outro segredo, muito íntimo e dela própria, do qual provavelmente apenas o marido compartilhava.
Agora, leitor, ao mergulhar vida adentro do personagem fascinante que foi Marcos Rey, você vai verificar que ele encontrou um biógrafo à sua altura.
(Orelha do livro “Maldição e glória: a vida e o mundo do escritor Marcos Rey”, de Carlos Maranhão, escrita por Ricardo Setti e publicada originalmente em 27 de junho de 2004 no blog que o autor manteve no site da revista VEJA de 2010 a 2015)
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