Num ato de visível inconformismo com a derrota eleitoral e desapreço até pela educação, o presidente Jair Bolsonaro embarcou nesta sexta-feira , 30 de dezembro, de Brasília para Miami, nos Estados Unidos, num avião da Força Aérea Brasileira. Desta forma, não estará presente na cerimônia de posse do presidente Lula, dia1º de janeiro, descumprindo um dever democrático e não dando curso a uma tradição de tolerância iniciada por Sarney e interrompida por Temer.
O presidente José Sarney, alvo de uma campanha contrária duríssima de Fernando Collor, que inclusive o chamou de ‘ladrão’, não faltou à posse do presidente eleito, a 15 de março de 1990, e lhe transmitiu a faixa presidencial. Itamar, sucessor de Collor, passou a faixa a seu aliado Fernando Henrique, que fez o mesmo a seu adversário Lula em 1º de janeiro de 2003, além de ter protagonizado uma transição considerada exemplar. Lula passou a Dilma em 1º de janeiro de 2011, mas Temer, criticado como golpista por Lula e seus partidários, interrompeu a incipiente tradição, deixando de fazer o mesmo ao presidente em 1º de janeiro do ano passado
Teoricamente Bolsonaro voltará ao país dia 30 de janeiro, mas pessoas de seu entorno informam que a estada poderá se prolongar. Estará acompanhado de cinco assessores, autorizados a viajar por portaria publicada no Diário Oficial da União.
A partir de 1º de janeiro, já como ex-presidente, ele terá por lei o direito de utilizar, em gabinete particular, os serviços de 8 funcionários pagos pelos cofres da União: 4 servidores serão desinados para sua segurança, 2 serão motoristas e os outros 2 assessores do tipo que o presidente preferir – diplomatas, por exemplo, ou militares. Terá também direito a um veículo blindado, em geral automóveis já usados anteriormente pela Presidência.
Contrariamente ao que imagina a grande maioria dos brasileiros, um ex-presidente não recebe qualquer tipo de pensão – embora alguns ex-governadores e até ex-prefeitos embolsem dinheiro público depois de deixar o posto. Há, no entanto, movimentação no partido de Bolsonaro, o PL, para que o ex-presidente mantenha na sede partidária, em Brasília, seu gabinete, e receba uma retribuição de bom valor, por iniciativa do virtual dono do partido, o ex-deputado e ex-presidiário Valdemar da Costa Neto. A ex-primeira-dama Michele poderá também ter uma função remunerada no partido.

Nos Estados Unidos o presidente estará hospedado numa das duas mansões que o lutador de MMA José Aldo possui próximo a Orlando, na Flórida. Aldo disse ao portal Metrópolis que empresta a casa “para todo mundo, não só para o Jair [Bolsonaro]. A casa tem nove quartos, piscina, tem tudo lá. Muita gente ‘cai’ lá: atrizes, cantores, atletas… Eu empresto a casa, normal. Como o cara me ligou, eu falei: ‘Cai na minha casa’”, contou.
Segundo o Metrópolis, em entrevista ao Flow Podcast, o bicampeão do UFC também afirmou que pretende colocar uma placa no imóvel, com os dizeres “Aqui ficou o presidente do Brasil”. José Aldo, com visão comercial, argumentou que com sua “jogada” não pensou “se é esquerda ou direita” e que as críticas vêm de “gente que pensa muito pequeno e não pega a visão do negócio”.
Aparentemente o lutador não estará na casa durante a estada de Bolsonaro