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Enquanto se instalava, hoje, na Câmara, a CPI solicitada pelo deputado Luiz Bronzeado [Arena-PB], para apurar sua participação no caso o sequestro do [cidadão] grego Hipocrates Takapoulos – principal protagonista do caso do Diamante 007 -, o delegado federal Walmores Barbosa, que preside igual inquérito no Departamento Federal de Segurança [precursor da Polícia Federal], esclarecia que seus trabalhos já estão concluídos e que a matéria deverá ser enviada, nos próximos dias, à Justiça.

O ministro Evandro Lins, do STF, por sua vez, oficiou ao diretor-geral do DFSP, solicitando informações para a instrução do “habeas corpus”, do qual é relator, impetrado em favor do delegado Egberto Assunção [que está preso, acusado de envolvimento no sequestro]. 

Assunção depõe

O delegado Egberto Assunção, que continua preso incomunicável no quartel da 1ª Bateria Independente de Canhões Automáticos Antiaéreos, foi ouvido, até as primeiras horas de hoje, pelo delegado Walmores Barbosa, que se fazia acompanhar dos promotores José Manoel Coelho e José Ferreira Leitão. Sua esposa, constantemente acusada pelo grego de estar envolvida no caso e, de ter participado e colaborado nas torturas que lhe foram infligidas, não prestou ainda depoimento, por estar doente.

 O garimpeiro João Barbosa Sobrinho, vendedor do diamante a Hipocrates, continua foragido, empreendendo o DFSP intensas diligências para sua prisão, já decretada. Seus dois filhos, também implicados, já foram presos.

Esposa acusa

No correr dos depoimentos, a sra. Guiomar Takapoulos, brasileira, esposa de Hipocrates, acusou o delegado Egberto Assunção de haver ameaçado de morte, quando de sua viagem à Grécia, em busca do diamante, sua sogra, mãe do grego, para que ela desse conta do paradeiro da gema. Takapoulos, por seu turno, não se cansa de afirmar que descobriu ser o diamante tão somente um belo e valioso cristal, de valor incomparavelmente menor que teria se fosse, realmente, um diamante. Insiste em dizer que a pedra se partiu na Grécia e que seus fragmentos estão com um tenente, Matzagas, da polícia de Atenas.

Hipocrates está sendo transferido do Batalhão da Polícia do Exército, para onde foi recolhido logo após ter sido encontrado pela Polícia na fazenda do deputado Luiz Bronzeado, para o Núcleo de Custódia de Brasília, prisão civil. Assim, cessará o regime de incomunicabilidade a que vem sendo submetido, devendo amanhã, com certeza, receber a visita de sua esposa e de seus filhos de 3 e 6 anos, respectivamente, que não o veem há mais de 5 meses.

O deputado

Informou-se, em fontes autorizadas, que o Departamento Federal de Segurança Pública está de posse de diversos documentos que provam a participação do deputado Luiz Bronzeado no caso. Entre esses documentos está uma procuração de Hipocrates para que o deputado pudesse dar busca ao diamante. Se realmente for confirmada essa hipótese, o parlamentar estará envolvido, pois tem declarado reiteradas vezes que era advogado do garimpeiro. Se assim fosse, não poderia ter procuração do grego, que é parte contrária, acusado que foi, pelo garimpeiro, de haver-se apossado do diamante mediante fraude.

É possível que o grego seja libertado nos próximos dias, tendo em vista a denúncia que contra ele apresentou hoje o Ministério Público. Com efeito, nenhum dos artigos em que Hipocrates foi enquadrado comina pena máxima igual ou superior a dez anos, condição para que exista a prisão preventiva obrigatória. Desta forma, o advogado de Hipocrates poderá, amanhã ou depois, entrar com pedido de relaxamento de prisão preventiva de seu cliente, que teve esta medida decretada contra si no início do ano, por denúncia do delegado Assunção, segundo a qual teria roubado o diamante e não cometido estelionato, crime de que foi hoje acusado.

Denunciados

 O promotor José Manoel Coelho, da 2ª Vara Criminal, ofereceu denúncia contra Hipocrates Takapoulos, Rachid Ayub Iskander e Estrathios Demosthenes Koslidis, acusando-os de crime de estelionato, falsificação de documentos e contrabando.

Na denúncia o promotor reporta-se às manobras desenvolvidas pelos três acusados para se apossarem do diamante que pertencia ao garimpeiro João Barbosa Sobrinho, simulando pagarem à vítima a quantia de quatro bilhões de cruzeiros.

 Instalada a CPI

 Instalou-se hoje, na Câmara, a Comissão Parlamentar de Inquérito solicitada pelo deputado Luiz Bronzeado para apurar sua participação no caso do desaparecimento do Diamante 007, tendo sido eleitos presidente e vice-presidente os deputados Dnar Mendes (Arena-MG) e Pedro Braga (MDB-MA) e escolhido relator o deputado Edson Garcia (MDB-MT).

Integram ainda a CPI os deputados Pereira Lucio (Arena-AL), e Mário Gomes (Arena-PR). Na próxima semana o sr. Edson Garcia apresentará o roteiro dos trabalhos, devendo ser ouvido em primeiro lugar o deputado Luiz Bronzeado.

(Matéria de Ricardo Setti, de Brasília, publicada no jornal O Estado de S. Paulo em 17 de junho de 1966)

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