Bastou o corregedor da Receita Federal, Moacir Ferreira Leão, utilizar a palavra “propinoduto” para classificar a extorsão de dinheiro e sua remessa para o exterior de que são acusados fiscais do próprio órgão e da Secretaria da Fazenda do Rio, e pronto: ele passou a figurar como inventor da palavra.

Mas, por justiça, deve-se apontar o verdadeiro criador do esplêndido neologismo: o jornalista Elio Gaspari, muitos anos atrás – talvez nem ele próprio se lembre de quantos. Aliás, um grande o número de palavras e expressões cunhadas por Elio para descrever usos e costumes pátrios passaram a ter curso indiscriminado na mídia, sem que jamais se atribua a ele a autoria.

Os exemplos são muitos, começando por “fritar” e “fritura” para indicar processo, envolvendo figura da vida pública, similar àquele que vivem técnicos de futebol prestigiados pela diretoria de seus clubes. O verbo e o substantivo surgiram quando Elio brilhava na revista “Veja”, nos anos 80.

Mas há também “patuléia”, “malta”, “choldra” e similares para definir o povão, diariamente espoliado em seus direitos – uma ironia de que Elio lançou mão, pela primeira vez, em memorável reportagem de capa sobre os duzentos anos da Revolução Francesa que produziu igualmente para Veja em 1989. Na reportagem, palavras como essas, na maioria com sentido original depreciativo, vão sendo aspergidas ao longo do texto até que, já no fim, quando a revolução triunfa e a nobreza vai para a guilhotina, ela é sem alarde substituída por “povo”.

Ainda são da iniciativa de Elio a reabilitação da velha expressão “A Viúva” para designar a União, de cofres sempre sugados por obra e graça da Lei de Gerson em vigor no país desde os tempos de D. Manuel, o Venturoso, e, entre muitas outras, a cunhagem de “andar de cima” e “andar de baixo” para designar as elites e o povaréu.

O engraçado é a Folha de S. Paulo, de que Elio é articulista, atribuir ao burocrata da Receita a invenção de “propinoduto”.

J.  R. Duran em tesouro à espera de editor

Ele é provavelmente o mais famoso fotógrafo país, e com certeza um dos mais competentes. Foi de suas lentes que saíram, entre incontáveis trabalhos conhecidos, as fotos promocionais que, na campanha eleitoral do ano passado, substituíram pela imagem de um homem sereno e feliz a antiga carranca do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

No entanto, o livro de estréia do catalão/brasileiro J. R. Duran, lançado há algumas semanas, não contém fotos – trata-se de Lisboa (Editora Francis, 102 páginas), ficção com direito a thriller, sexo e bom texto. O livro de imagens, tesouro pinçado cuidadosamente de uma rica e variada produção, repousa em seus arquivos à espera de um editor inteligente e disposto a investir.

O livro está montado, prontinho, há um bom tempo. Terá duzentas páginas no formato 24 x 30 centímetros. Noventa por cento do material, talvez até mais, é inédito. Há fotos em cores e em preto e branco. Curiosamente, Duran fechou seu foco apenas nos últimos seis ou sete anos de uma carreira muitíssimo bem sucedida de três décadas – fase em que, assegura, efetivamente começou a gostar das próprias fotos.

Conterá mulheres nuas, esplendorosas, como as que fizeram a celebridade de Duran? Terá moda – para citar outra área em que, juntamente com a publicidade, ele é mestre? Duran responde: “É meu universo, o dia-a-dia que envolve mulheres bonitas, outras nem tanto, paisagens, brigas de galos, guerreiros masai [tribo do Quênia]. Mulheres famosas e outras nem um pouco. Viagens. Guerra  em Angola, quartos de hotel, retratos, feras, gorilas em Ruanda. Mas tudo visto com o mesmo rigor estético de sempre”.

Em lugares barra pesada como Angola e Ruanda, Duran carregou a mesma Pentax 6×7 com que fotografa normalmente as capas de revista – mas também um fuzil AK-47.

A obra já tem título: J. R. Duran/Fotógrafo.

Enquanto espera um editor para as imagens, Duran continua sua carreira de escritor. Ele começou a escrever há alguns meses seu segundo livro, por enquanto sem título – “Vou esperar terminá-lo para ver com que cara vai ficar e dar o título de acordo”. Há um terceiro em ruminação, brigando em sua cabeça para tomar forma. “Esse segundo já está me saindo com a cara do terceiro”, confessa. “Não sei bem ainda o que vou fazer. Na verdade acho que vou pensar direito no terceiro só quando conseguir acabar este”.

A editora anuncia que se trata de uma trilogia. Duran ameniza o conceito: “O que terão em comum é esta maneira de narrar as coisas que mistura romance de suspense com uma certa agonia existencial, como disse um amigo”.

Tucanos e Lula

Esperta e marota a declaração final dos oito governadores tucanos reunidos em São Paulo esta semana que, entre outros pontos, declarou apoio às reformas propostas pelo governo petista. Diz, a certa altura: “Acolhemos favoravelmente as declarações do governo (…) a favor das reformas historicamente defendidas pelo PSDB”.

Bresser e Ricardo Sérgio

O ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira se diz cansado de desmentir que o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, apontado em reportagem da revista IstoÉ como envolvido em operações de lavagem de dinheiro via Banestado (o ex-banco estatal do Paraná), tenha sido “caixa de campanha de Fernando Henrique Cardoso”. Segundo Bresser, jornalistas fazem ouvidos surdos a suas explicações.

Nem todos. Vamos, pois, a elas. Coordenador financeiro das duas campanhas de FHC – na primeira delas, como tesoureiro do PSDB –, Bresser diz ter tido, durante a campanha de 1998, apenas um contato telefônico com Ricardo Sérgio. Era “para saber se poderia me ajudar a pedir a contribuição da [indústria de produtos de origem animal] Perdigão, mas ele me disse que essa empresa estava na época sob intervenção, não podendo fazer doações”.

Segundo o ex-ministro, isso “foi tudo. Jamais qualquer um dos doadores que contatei me disse que Ricardo Sérgio, que só vi uma vez em minha vida, o havia contatado para o mesmo fim”.

Pra valer

Gente que conhece o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, garante: não será apenas jogo de cena a investigação que ele determinou à Polícia Federal sobre a falsificação em uma ordem judicial que permitiu a escuta clandestina dos telefones de três deputados de oposição ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) na Bahia.

O recorde de Nilson Naves

Há um detalhe pouco conhecido na biografia do ministro Nilson Naves, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), cujo afastamento temporário do cargo está sendo solicitado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) até que se esclareçam as denúncias de que sua mulher, Adélia Cecília Menezes Naves, estaria envolvida no esquema de compra de habeas-corpus em favor de traficantes de drogas descoberto pela Polícia Federal.

O presidente João Figueiredo (1979-1985) nomeou-o para o extinto Tribunal Federal de Recursos (TFR) – absorvido pelo STJ por força da Constituição de 1988 – a exatos três dias do final do regime militar, que ocorreria com a posse do presidente José Sarney a 15 de março de 1985.

Tudo por obra e graça do então chefe da Casa Civil da Presidência, João Leitão de Abreu, com quem Naves trabalhou, como assessor, no Supremo Tribunal Federal (STF) entre 1978 e 1981, e na Casa Civil, entre 1981 e 1985.

Em matéria de nomeação para alto posto no Judiciário ao apagar das luzes de um governo, é um recorde até hoje imbatível.

Carreira

Detalhe: enquanto assessor de Leitão de Abreu, Naves recebeu quatro promoções em sua carreira no Ministério Público de São Paulo, embora estivesse distante dela, em Brasília.

Bom para eles, mas…

Não foram casuais as recentes observações do chanceler Celso Amorim sobre a forma de integração do México aos Estados Unidos dentro do Nafta (sigla em inglês para Tratado de Livre Comércio da América do Norte), na linha de que “o que é bom para o México não é necessariamente bom para o Brasil”.

Os relatórios disponíveis sobre o desempenho do comércio exterior do México mostram que as indústrias  americanas “maquiadoras” de produtos, instaladas maciçamente no norte do país, próximo à fronteira com os EUA, embora tenham trazido um grande vigor econômico à região, têm seu desempenho exportador comprometido por um colossal volume de importações.

As maquiadoras, como se sabe, são indústrias que basicamente se limitam a montar componentes importados de um ou mais países, utilizando mão-de-obra barata local.

Amorim, com seus comentários, mirava um modelo que de alguma forma vê embutido nas propostas de Washington para a futura Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Sarney fica em casa

A decisão do senador José Sarney (PMDB-AP) de não se mudar para a residência oficial do presidente do Senado, na Península dos Ministros, no Lago Sul de Brasília, tem muito de opção pura e simples pelo conforto.

Sarney mora em aprazível casa própria na mesma região, a algumas centenas de metros da residência oficial. Lá, possui uma adega no subterrâneo e um escritório com dois computadores – um para ele, outro para sua mulher, Marli.

Ali ele também costuma pintar – marinas e portões típicos de casas do Maranhão. Dona Marli tem apreço especial pelo canteiro de dálias no jardim, de que cuida pessoalmente.

Bola na rede

Foi só a coluna tocar em cifras do futebol, duas edições atrás, para aumentar seu volume de correspondência. (Se quiser conferir, clique ao lado em “Romário não deve chegar aos mil gols”). Mais de um internauta indaga se os gols dos três maiores artilheiros da história da Seleção Brasileira de futebol – Pelé (97), Romário (69) e Zico (67) – foram todos marcados em jogos oficiais.

O guru de estatísticas Celso Unzelte, fonte desses números, informa que não. A marca inclui jogos não-oficiais – como as partidas contra clubes ou combinados. (Considera-se combinado, por exemplo, a seleção da Catalunha contra a qual atuou a seleção de Felipão antes da Copa de 2002).

Mas em jogos oficiais, os três continuam sendo os maiores, e na mesma ordem – sendo que o Baixinho supera Zico por apenas um gol. Os números: Pelé, 77, Romário, 54, e Zico, 53.

Gol contra

Por falar em futebol, que papelão o do ex-meio-campo do Vasco e da seleção Geovani, não? Em sua nova identidade de deputado estadual em primeiro mandato pelo PTB no Espírito Santo, Geovani Silva elegeu-se presidente da Assembléia Legislativa do Estado graças a expedientes altamente suspeitos que derrotaram o candidato do governador Paulo Hartung (PSB), o deputado Carlos Vereza (PT).

Manobrando Geovani esteve o ex-presidente da Assembléia José Carlos Gratz (PFL), suspeito de ser um dos chefões do crime organizado no Estado, citado pela CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados e alvo de um pedido de prisão por parte do Ministério Público sob acusação de compra de votos na eleição para a Presidência da Assembléia em 2000.

A eleição de Geovani terminou anulada pela Justiça devido à participação de deputados suspeitos de ter embolsado dinheiro para eleger Gratz em 2000. Vereza, do PT, acabou ganhando a parada, e promete colaborar no esforço gigantesco de Hartung para moralizar o Espírito Santo.

Para quem não se lembra de Geovani, ele foi campeão mundial pela seleção de juniores em 1983, quando era do Vasco. Surgiu na Desportiva do Espírito Santo, chegou a bicampeão carioca pelo Vasco em 1987-88, medalha de prata nas Olimpíadas de 1988, em Seul, esteve na Seleção que conquistou a Copa América de 1989 e, no mesmo ano, transferiu-se para o Bolonha, da Itália. Jogou depois pelo Karlshue da Alemanha e dependurou as chuteiras em 2001, aos 37 de idade, pela Desportiva. Atuou 33 vezes pela seleção.

No começo da carreira, protagonizou um episódio esquisito. Com passe vendido pelo Vasco ao Corinthians, teve direito a ser apresentado à torcida no Parque São Jorge, onde soou a tradicional sirene que indica contratação de craque, vestiu a camisa alvinegra e fez pose para os fotógrafos. No dia seguinte, porém, quem se apresentou em nome do Vasco para treinar, como se tivesse sido ele o contratado, foi o hoje esquecido Arturzinho.

Style news

A nova secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, detém de um currículo respeitável. Ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) durante a gestão do ministro Paulo Renato no Ministério da Educação (1995-2003), ex-secretária-executiva do MEC, colaboradora da Unesco e professora licenciada de ciência política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a professora, não obstante – e com todo o respeito pelo politicamente incorreto – tem chamado a atenção de interlocutores por, vez por outra, sob trajes discretos, ostentar decotes reveladores.

Constatação

Quase nove horas de reunião, naquele calorão infernal de Brasília em fevereiro, com só uma pausa para almoço – e, nele, picadinho como prato forte.

E ainda há quem diga que não é o verdadeiro PT que chegou ao governo.

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