Image
Reprodução do artigo publicado © Reprodução

São Paulo — Debate eleitoral é como estatística: cada um usa seus resultados como quer. É o que acontece, agora, com a grande première da campanha eleitoral de são Paul– o debate de anteontem, domingo, 24 de agosto de 1986, entre os candidatos ao governo estadual, que só foi “histórico” por ser o primeiro transmitido em cadeia nacional. Todo mundo ganhou, a julgar pela efervescência nos estados-maiores das cinco candidaturas.

O megaempresário Antonio Ermírio de Moraes (PTB) [figura respeitadíssima em São Paulo pela gestão do grande grupo Votorantim, que comandava, e que pela primeira vez concorria a cargo eletivo] ganhou porque as sondagens de opinião disseram que ele ganhou e é sob o doce embalo de números crescentemente favoráveis que o candidato vê a aproximação do horário gratuito de propaganda no rádio e na televisão.

Paulo Maluf [do PDS, sucessor da Arena, ex-prefeito e ex-governador biônico, ou seja, eleito indiretamente nas duas ocasiões] acha que foi melhor do que os outros — alguma surpresa? — porque foi duro e agressivo.

O senador Orestes Quércia (MDB) tornou radiante seu grupo mais próximo de adeptos e colaboradores apenas pelo mero e elementar fato de não ter ido tão mal como todos.

Os petistas [do deputado estadual] Eduardo Suplicy entenderam que milhões de eleitores tomaram contato visual com a seriedade e a franqueza de seu cabeça de chapa.

E o representante deste desconcertante e nebuloso Partido Humanista, Teotônio Simões, agradece aos céus, hoje, a espécie de molecagem que permite — na verdade, obriga — num debate desse porte de um candidato que é um traço nas estatísticas simplesmente pelo fato de ter um papelucho com o registro [do partido] da Justiça Eleitoral.

Mas de todas as infinitas conclusões que se podem tirar depois do show que a Globo levou ao ar depois dos Gols do Fantástico talvez a mais curiosa seja a de que voltou à cena brasileira um cidadão que andava sumido: o sr. Paulo Salim Maluf. Até então, estava em campanha outro candidato que usava o nome, o físico, os recursos materiais e a carteira de identidade do sr. Paulo Salim Maluf, seja no tom de voz controlado e cordato, seja na postura do queixo — meticulosamente estudada para escoimar-lhe o tom de arrogância — ou na disposição de escutar mais do que as próprias palavras.

Domingo, o outro Maluf reassumiu finalmente seu posto.

(Artigo publicado por Ricardo Setti, diretor da sucursal de São Paulo do Jornal do Brasil, a 26 de agosto de 1986, sob o título original de “No ar, o verdadeiro Maluf”)

DEIXE UM COMENTÁRIO

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *