Garrafas de champanhe foram abertas numa das mansões do complexo dos Kennedy em Hyannis Port, Massachusetts: a família estava comemorando a grande surpresa da campanha eleitoral democrata deste ano. Robert Sargent Shriver, cunhado do presidente John Kennedy, foi escolhido como o companheiro de chapa do senador George McGovern às eleições 7 de novembro deste 1972, e aceitou.
Sargent Shriver, como é mais conhecido, 56 anos, é casado com Eunice, irmã de John Kennedy, foi diretor do Peace Corps e embaixador dos Estados Unidos em Paris e achou “sensacional” sua indicação para candidato a vice-presidente da República. Declarou-se “orgulhoso e satisfeito” com a escolha de McGovern, recordando que trabalhou com o senador durante anos na realização do programa “Alimentos para a Paz” e que sente por ele “o maior respeito”. Esclareceu também que havia sido procurado “há vários dias” pelos auxiliares de McGovern para formar com ele a chapa democrática, e que já mantivera com o senador duas conversas telefônicas ontem à tarde. À noite, já em Washington, os dois se encontraram.
[Só para lembrar: o Peace Corps, ou Corpos da Paz, foi um programa de voluntariado internacional criado por Kennedy para que jovens norte-americanos dessem contribuição à melhoria da vida em países em desenvolvimento das mais variadas formas, desde o ensino até envolver-se pessoalmente em trabalho agrícola. O objetivo maior, claro, era promover uma imagem positiva dos EUA no exterior.]
A grande maioria dos observadores e da opinião pública esperava a indicação do senador Edmund S. Muskie, do Maine, para candidato a vice na chapa democrata, e acreditava-se que ele aceitaria. Mas Muskie recusou o convite de McGovern e este anunciou, logo em seguida, a escolha de Shriver num discurso transmitido em rede nacional de rádio e TV.
Muskie explicou aos jornalistas os motivos de sua recusa numa entrevista concedida em sua casa de verão em Kennebunk Beach, Maine: “Comuniquei minha decisão ao senador McGovern com um misto de pesar e de tristeza. Foi uma decisão tomada em família. Nos últimos quatro anos, em consequência dos esforços políticos que desenvolvi, não pude atender como devia os meus deveres familiares. Desgastei-me também física e emocionalmente. Nos últimos meses, a tensão emocional tornou-se muito forte, especialmente para minha mulher”.
O senador Edward Kennedy considerou a escolha do seu cunhado “uma grande contribuição” para a campanha democrata, e prometeu: “Farei por ele tudo o que me pedir”. Kennedy afirmou que Shriver “é um homem de considerável experiência e capacidade”, e acrescentou: “Fico muito satisfeito com a aliança entre Sargent Shriver e o senador McGovern e acredito que podemos agora lançar-nos a um grande debate sobre os problemas que estão diante do país”.
Republicanos criticam
McGovern, ao anunciar no sábado sua escolha, assinalou que Shriver sempre se destacou, em sua vida pública e particular, “por uma especial dedicação às necessidades dos pobres e das vítimas das injustiças raciais”. O candidato democrata consultou vários políticos antes de convidar oficialmente Shriver, após a renúncia do senador Thomas Eagleton, motivada por reações negativas à notícia de que ele se submetera a tratamento psiquiátrico.
Entre os republicanos, a escolha foi recebida com críticas. Clark MacGregor, diretor da campanha de reeleição [do presidente Richard] Nixon, afirmou que Shriver “é sinônimo do fracasso dos primeiros dias de guerra contra a pobreza” (no governo Kennedy). “A indicação mostra ao povo que McGovern não reconsiderou seus esquemas irresponsáveis sobre a previdência social, pretendendo segui-los até que acabe o dinheiro dos contribuintes”. E o presidente do partido, Robert Dole, anunciou que pedirá tempo grátis às emissoras de televisão para responder ao discurso de 15 minutos de McGovern sobre a escolha de Shriver. Ele acusou McGovern de utilizar indevidamente um serviço público, pois o trecho sobre Shriver em seu discurso ocupou apenas uma pequena parte do tempo concedido pelas emissoras.
Enquanto isso, a Comissão Pró-Reeleição de Nixon reduziu seu orçamento em rádio e televisão em 3,5 milhões de dólares, que serão utilizados para reforçar o esquema de arregimentação de novos eleitores republicanos.
(Artigo de Ricardo Setti publicado no Jornal da Tarde, de São Paulo, em 7 de agosto de 1972)
