O MDB perdeu as eleições legislativas em todo o país, e perdeu também quase todo o seu comando: seu presidente, seus líderes na Câmara e Senado, os presidentes dos diretórios de São Paulo e Minas Gerais, membros da sua executiva nacional. Alguns dêles são políticos tradicionais, importantes pelo papel que representaram ou que ainda vinham representando de uma ou de outra forma, na vida do país.
Mas nem todos os que não voltam são do MDB. O presidente do Senado, Gilberto Marinho (Arena-GB), por exemplo.
De todo modo, uma das derrotas mais marcantes foi a do presidente do partido de oposição, o MDB, senador Oscar Passos (AC). Por não ter sido reeleito, abandonará a política.
Foi um duro revés para o senador sua derrota no Acre, que governou quando o Estado ainda era Território, nos tempos de Getúlio Vargas, e ao qual dedicava todo o tempo que o cargo – árduo, e só êle sabe como – de presidente do MDB lhe permitia. Perdeu para um velho adversário, também ex-governador, José Guiomard (Arena), cujo prestígio, cultivado desde a época do PSD, ajudou a eleger também o candidato do partido do governo para a segunda vaga de senador, o deputado Geraldo Mesquita.
Sem mandato, aos 68 anos, gaúcho e general reformado, o senador Oscar Passos vai abandonar a política, e provavelmente só ficará à frente do MDB até a posse do nôvo Congresso, em março de 1971.
Sua longa carreira política começou em 1941, quando o capitão gaúcho especialista em questões de borracha foi nomeado interventor federal no Território do Acre. Posteriormente, foi presidente do Banco de Crédito da Borracha. Com a redemocratização [após a queda da ditadura de Getúlio Vargas, em 1945], elegeu-se deputado federal pelo PTB em 1950, 1954 e 1958. O Acre em 1960 foi transformado por lei do Congresso em Estado e passou, portanto, a ter direito a três senadores. Nas eleições de 1962, Oscar Passos ficou sendo um dêles.
Sempre teve atuação moderada e conciliatória, na Câmara e no Senado, e talvez êste fator tenha influído decisivamente na sua escolha para presidente do MDB, logo que o partido foi criado, em março de 1966, depois da extinção das antigas legendas decretada pelo Ato Institucional nº 2 [decretado pelo presidente marcehal Castello Branco em 27 de outubro de 1965].
Sua conduta à frente do MDB foi serena e dedicada, e poucos dos que o criticaram dentro do próprio partido teriam conseguido atravessar com o mesmo equilíbrio o tumultuado trajeto que a legenda viveu nos dois anos em que pôde efetivamente funcionar como algo parecido a um partido político de oposição, de março de 1966 até o Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968.
Muito combatido pelos “imaturos” [apelido dado ao setor mais radicalmente oposicionista do MDB], o senador Oscar Passos nunca fugiu do que considerava ser seu dever. Chegou a manter contatos, nos govêrnos passados, com o ministro da Justiça, Gama e Silva, e com o presidente Costa e Silva, que o admirava e respeitava. Em janeiro de 1968, denunciou no Senado “a tentativa de subversão da ordem” que se esboçava – segundo dizia – “no seio do próprio govêrno”, afirmando que o MDB não apoiava “golpes, partam de onde partirem, destinados a mudar pela fôrça a situação presente e nos impor o domínio de uma minoria ainda mais restrita e mais cruel”.
Às críticas dos “imaturos”, respondeu dizendo que não era dono do partido e que deixaria seu comando no momento em que seus companheiros assim decidissem, mas que não poderia também admitir que a oposição fôsse guiada pela “ação de minorias”. Condenou o terrorismo e os movimentos violentos de contestação do regime, mas afirmou – depois do AI-5 – ao ministro da Justiça que a oposição não estava disposta “a servir de moldura a um pano de fundo de uma pseudolegalidade”, e condenou a nova Constituição outorgada pela Junta Militar em 1969 como o principal obstáculo à redemocratização do País.
Durante sua longa permanência no congresso, o senador Oscar Passos era muito benquisto tornou-se uma das figuras mais respeitadas entre deputados e senadores.
