A concentração das atenções gerais na louca aventura empreendida pelo regime terrorista do Iraque no Golfo Pérsico não impede a constatação de que faltam, hoje, 41 dias para as eleições de outubro. Não se trata de um número redondo nem o País vive nada parecido com a febre cívica que foi a campanha para a eleição presidencial do ano passado [1989]. Pelo contrário. Ainda assim, o dia de colocar novamente – graças a Deus – o voto na urna já está no horizonte próximo dos cidadãos.

No caso da disputa para o governo de São Paulo, o mais importante Estado da Federação, já existem elementos para algumas considerações sobre os candidatos e suas possibilidades, a saber:

Paulo Maluf

Candidato até agora favorito das intenções de voto é beneficiário de um fenômeno muito conhecido em países de tradição democrática – o que os americanos chamam de name recognition, ou seja, o alto grau de reconhecimento público de seu nome. Maluf investiu nisso durante quase toda sua vida pública e mesmo derrotado na disputa indireta com Tancredo Neves, em 1985, e nas três eleições diretas de que participou, em 1986, 1988 e 1989, fixou poderosamente sua marca. Esse ainda é o seu grande trunfo.

Tem feito uma campanha eficiente, se for abstraído o aspecto ético da sonegação do direito do público de vê-lo participar de debates com os concorrentes. Sua deficiência é, como sempre, o enorme índice de rejeição que ainda enfrenta – um problema sério no segundo turno do qual só por milagre será excluído.

Mario Covas

Em menor grau, dispõe do mesmo tipo de capital que beneficia Maluf – a capacidade de ser reconhecido pelo eleitorado. Tem a favorecê-lo, diante de Maluf, uma taxa de rejeição bem menor, seja qual for a pesquisa que se examine. Sua campanha, porém, passa por dificuldades: há setores de seu partido, o PSDB, insatisfeitos com o programa de televisão no horário gratuito, por exemplo, e o próprio candidato parece sem entusiasmo.

Além disso, num país de tradição maniqueísta como o Brasil é sempre difícil explicar aos interessados, como ocorre com os tucanos, que diante de alguma coisa – no caso, o governo – se pode ser contra em algumas questões, e a favor em outras.

Um problema sério para [o senador] Covas é não se ter dado suficientemente conta, até agora, do impacto negativo que seu apoio à candidatura presidencial do deputado Luiz Inácio Lula da Silva, no ano passado, teve sobre boa parte de seu eleitorado de classe média e, em consequência, não dispor de nenhuma estratégia especifica para reverter a situação. De qualquer modo, investe no alto grau de rejeição a Maluf como carta na manga para o segundo turno.

Luiz Antônio Fleury Filho

Seu principal ponto de apoio é, também, seu calcanhar-de-aquiles – o fato de ser o candidato do governador Orestes Quércia. Por um lado, isso é bom para Fleury: Quércia tem, segundo as últimas pesquisas, excelentes índices de popularidade e está arremessando o considerável peso da máquina estadual na candidatura. Por outro, é ruim: seus adversários o apresentam como um joguete nas mãos do governador, um mero porta-voz, alguém destituído de personalidade própria.

Além do mais, tem de carregar a pesada cruz de ser do PMDB, miseravelmente relegado ao sétimo lugar na eleição de 1989 (e não ao sexto, como, por engano, foi registrado neste mesmo espaço na semana passada). Nos debates entre candidatos, surpreendeu pelo desempenho correto e teve, percentualmente, um grande crescimento nas pesquisas. O problema é que o tempo é curto para subir os 13 ou 14 pontos que o separam do segundo colocado, Mário Covas. Mas seria precipitado riscá-lo do mapa.

Plínio de Arruda Sampaio

O candidato do PT é desembaraçado, tem boa presença na televisão e se vale com frequência de sua experiência parlamentar, embora não ostente a típica vibração petista nos comícios. A grande vulnerabilidade está no partido, que ainda não conseguiu administrar os escombros do Muro de Berlim que desabaram sobre as ideologias e insiste num discurso que, mesmo com o muro em pé, já mostrou não ter receptividade em São Paulo – inclusive, ou sobretudo, na eleição presidencial, que Lula perdeu pela má votação em seu Estado adotivo. Não parece fadado a repetir o fenômeno Luiza Erundina de 1988, até porque aquela foi uma eleição de um turno só e a prefeita, eleita sem maioria absoluta.

Almino Affonso

Está irreconhecível, numa campanha sem rumo. Nem sequer esboça uma escaramuça no terreno ideológico, que, para o bem ou para o mal, tradicionalmente sempre foi seu forte, perdendo-se, visivelmente sem convicção, num conjunto de mensagens anódinas, que incluem a “necessidade de planejamento” para governar São Paulo. Parece ainda estar travado pelo rancor contra Quércia, que o preteriu dentro do PMDB (partido pelo qual, aliás, poderia estar disputando um confortável mandato de deputado federal). Do jeito que vai, seu grande objetivo agora parece ser escapar da humilhação da lanterninha.

Adhemar de Barros Filho

É uma candidatura sem pé nem cabeça, desconcertante e inexplicável. Os filmes das décadas de 40 e 50 em que mostra a figura de seu pai na televisão chegam a ser surrealistas. [Adhemar de Barros, o pai, político populista e bombardeado durante toda a carreira por acusações de corrupção, foi interventor em São Paulo durante a ditadura getulista mas governou o Estado pelo voto popular em duas ocasiões, além de ter exercido, também pelo voto, um mandato de prefeito da capital.] Pelo jeito, só está na disputa porque deve detestar a Câmara dos Deputados, para onde, se quisesse, poderia voltar.

Image
Reprodução do artigo tal como foi publicado pelo jornal © Reprodução

DEIXE UM COMENTÁRIO

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *