O anúncio do presidente de que desiste de sua candidatura à reeleição tendo em vista”os interesse de meu partido e do país” demorou a ocorrer, mas, com ela, o 46º presidente dos Estados Unidos mostrou a diferença entre um político e um estadista. Biden curvou-se aos temores dentro do Partido Democrata de que suas confições físicas e de seus vacilos de raciocínio tornavam dificíl a necessária vitória contra Donald Trump, hoje dono do Partido Republicano. E, com isso, seriam prejudicadas seriamente as próprias candidaturas de deputados, senadores e governadores democratas.
Biden fez exatamente o oposto do que ocorre com Donald Trump: colocou os interesses do país à frente de seus próprios, uma vez que havia afirmado e reafirmado que continuaria na disputa.
A indicação de seu apoio à vice Kamala Harris para substituí-lo, porém, volta para o circuito da política pura: embora já tendo obtido o apoio de grandes financiadores, entre eles o bilionário Reid Hoffman, um dos fundadores do LinkedIn, de governadores de Estado, de senadores, do ex-presidente Bill Clinton e sua mulher, Hillary, a ex-candidata à Presidência que ganhou no voto popular mas perdeu no Colégio Eleitoral para Trump, em 2016, a máquina do Partido quer realizar uma “convenção aberta” em Chicago, entre os próximos dias 19 e 22 de agosto.
Foram meses de pressão para que Biden abandonasse a candidatura por parte de seus próprios aliados e, mais recentemente, mesmo de seus assessores próximos – sem contar a ação silenciosa do mais popular democrata, o ex-presidente Barack Obama. Kamala Harris disse que vai disputar a indicação, acrescentando: “Juntos, lutaremos. E juntos, iremos ganhar”.
Sobre Biden, que a chamou de “extraordinária parceira”, Kamala afirmou: “Seu notável legado não tem paralelo na história moderna dos Estados Unidos, ultrapassando o legado de muitos presidentes que serviram por dois mandatos na Casa Branca”..
A reação de Trump teve o tom grosseiro de sempre. Segundo ele, não apenas agora, mas “nunca” Biden teve condições de ser presidente. Sua equipe, prevendo que Kamala pudessse ser a candidata em caso de desistência de Biden, já havia preparado um grande número de vídeos de publicidade atacando a atual vice-presidente – que é chamada por setores trumpistas de “czar do aborto”, por ser favorável ao direito de as mulheres decidirem sobre sua própria gestação.
A “convenção aberta”, com quase 4.000 delegados já eleitos nas primárias, não significa automaticamente apoio a Kamala, pois, mal avaliada nas pesquisas de popularidade e tendo cometido muitas gafes ao longo de seu mantato, não são poucos os companheiros de partido que não a consideram capaz de derrotar Trump. Mas a vice já arranca na frente, até com comerciais sendo transmitidos por emissoras de TV de vários Estados.
Outros nomes para a convenção não faltam, começando pela popular governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, em seu segundo mandato. Ela é 29 anos mais jovem do que Biden, bonitona e corajosa — desafiou durante toda a pandemia a má vontade de Trump em relação ao fornecimento de material para combater a Covid-19 e as críticas ferozes do presidente ante o duro lockdown que impôs em seu Estado. Whitmer enfrentou manifestações de trumpistas armados diante do palácio do governo e foi ameaçada de morte.
Diante do novo cenário, ela informou, por meio de sua assessoria, que não pretende “concorrer a qualquer tipo de eleição este ano”. Será?
Estão sendo considerados também, ao menos como possíveis candidatos a vice, os senadores negros Cory Booker, de New Jersey, e Raphael Warnock, da Geórgia.
Ainda teremos muitas novidades nos próximos dias e semanas.
1 comentário
Antes tarde do que nunca. E acho que foi numa hora boa. Depois do atentado, Trump teve o monopólio da mídia. Agora o monopólio virou pra Kalama, uma candidata jovem e sorridente! Como é bom um frescor e bom humor na política!! Caro Márcio, obrigado por visitar o site. Talvez tenha sido em cima da hora demais, tais são as demandas de uma campanha presidencial. Mas concordo com voce que o virtual monopólio da mídia que favoreceu Trump vai virar para Kamala, e a mudança energizou o Partido Democrata e os candidatos democratas a governador, deputado, senador, senador estadual (cargo que existe nos EUA, como você sabe) deputado estadual e todo um elenco de outros funcionários eleitos, inclusive procuradores, juízes locais, xerifes...