O ótimo Nexo Jornal, publicação cuja principal preocupação é tentar explicar o que está acontecendo e não simplesmente noticiá-lo — uma poderosa arma no Brasil para enfrentar fake news –, me pediu anos certa vez que indicasse cinco livros que me haviam marcado em leituras recentes.

Compartilho aqui no site  porque continuam me marcando. Livros de primeiríssima.

Veja só:

A Capital da Vertigem

Roberto Pompeu de Toledo

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Capa do magnífico livro de Roberto Pompeu de Toledo sobre São Paulo de 1900 a 1954

Esplêndida história de São Paulo entre 1900 e o ano do quarto centenário, 1954. Delícias como saber detalhes da chegada do primeiro automóvel à cidade ou conhecer as disputas por quem construía o edifício mais alto misturam-se a rebeliões sanguinárias, imigrantes tornados milionários e uma riquíssima galeria de personagens fascinantes, que vão de Mario de Andrade a Assis Chateaubriand, de Claude Lévy-Strauss a Cicillo Matarazzo. Texto informativo, soberbo e delicioso.

Getúlio

Lira Neto

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Capa do primeiro volume da trilogia

Uma trilogia de 1.704 páginas que se lê de uma sentada. Com linguagem de jornalista e rigor de historiador, Lira Neto produziu um grande retrato do político mais marcante da história republicana. A leitura permite concluir que, diferentemente da imagem de “grande líder” e condutor de massas associada ao personagem, Getúlio era destituído de convicções profundas e se destacou mesmo foi pela capacidade oportunista de antever para onde sopraria o vento. Reforçou, em mim, a convicção de que seu papel na história foi, mais que tudo, nefasto.

Four Days in November – The Assassination of President John F. Kennedy

Vincent Bugliosi

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Infelizmente o que considero o mais completo livro já escrito sobre o assassinato de Kennedy não foi traduzido no Brasil. Li em e-book

A melhor reportagem que li na vida. O ex-promotor público Vincent Bugliosi passou 20 anos investigando o assassinato de Kennedy e entrevistou pessoalmente ao menos mil – sim, mil! – pessoas para fazer um implacável relato cronológico, incluindo frequentemente precisão de segundos, de cada momento transcorrido desde a chegada do presidente a Dallas até seu funeral. Sem querer provar nada de antemão, chega à conclusão, insofismável, de que não houve conspiração alguma no caso.

With the Old Breed – At Peleliu and Okinawa

Eugene B. Sledge

Magrinho, pequeno, sem nenhuma vocação para enfrentamentos, o futuro biólogo e professor Eugene B. Sledge saiu de seu distante Alabama para se alistar como fuzileiro naval e seguir para o feroz front da guerra do Pacífico (1941-1945), em que os Estados Unidos enfrentaram um Japão com uma poderosa máquina de guerra que já ocupara boa parte da Ásia.

O livro de Sledge resultou de apontamentos que ele foi fazendo, às escondidas — era proibido — num exemplar da Bíblia, e se destaca de  longe de outras narrativas do gênero porque descreve o conflito basicamente sob o ponto de vista do soldado raso: o pavoroso mau cheiro de corpos em decomposição o tempo todo, em todo lugar, até semanas sem poder trocar uma só peça de roupa, dias seguidos encharcado de chuva e sujo de lama, o pior do ser humano por toda parte – soldados japoneses atirando diretamente nos paramédicos, por exemplo, ou bons rapazes cristãos de bochechas vermelhas do Meio Oeste americano avançando sobre japoneses moribundos para arrancar com alicate dentes de ouro.

Nunca li nada semelhante sobre a II Guerra Mundial.

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Uma pena que também este livro extraodrinário não tenha sido traduzido no Brasil. Li em e-book

Santa Evita

Tomás Eloy Martínez

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Felizmente traduzido em várias edições no Brasil. Livro literalmente imperdível

Meio ficção, meio realidade, este portentoso livro do escritor argentino (felizmente traduzido no Brasil) pinta com cores alucinantes, mas reais, a vida e a curta mas fulminante carreira pública da ex-atriz medíocre Maria Eva Duarte de Perón, a Evita Perón, a primeira-dama que se tornou semideusa no país vizinho em oito anos de convivência com o líder Juan Domingo Perón.

Morta de câncer aos 33 anos em 1952, seus funerais mobilizaram dois milhões de pessoas e ela foi declarada, por lei, “chefa espiritual da nação”. Até Perón ser deposto, em 1955, houve campanhas por sua canonização e todo santo dia, às 20h25, as emissoras de rádio da Argentina eram obrigadas a lembrar tratar-se da hora em que Evita “passou para a imortalidade”.

O livro mostra que, no terreno do populismo, pode não haver limites para a insânia.

(Post de Ricardo Setti, de São Paulo, publicado originalmente no Nexo Jornal a 4 de setembro de 2016)

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