O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi eleito em primeira votação na quinta-feira, 27 de junho desde 2013, como novo membro da Academia Brasileira de Letras. FHC recebeu 34 dos 39 votos possíveis, e um acadêmico se absteve.
Sua eleição coincidiu com o lançamento de um interessante livro que se soma à sua vasta e fecunda obra como sociólogo e também como político – destaque para suas memórias políticas, A Arte da Política: a História que Vivi (Editora Civilização Brasileira, 2006), nutridas 700 páginas na primeira pessoa sobre sua trajetória nesse terreno – desde que começou a assessorar o então MDB, na campanha eleitoral de 1974, até o término de seu segundo mandato como presidente da República, em 2003.
Na época, FHC era a figura de mais destaque do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, instituição de pesquisa fundada em 1969 por um grupo de intelectuais ligados à USP – inclusive vários, como FHC, que haviam sido cassados pela ditadura militar.
Sua eleição para a ABL coincidiu com o lançamento de um interessante livro que se soma à sua vasta e fecunda obra que já passa de duas dezenas de livros – algo que não se pode dizer de alguns acadêmicos, como, por exemplo, o ex-vice-presidente Marco Maciel, do qual provavelmente nem os colegas acadêmicos são capazes de mencionar um único titulo.
Resenha de Julia Carvalho, publicada em edição impressa de VEJA
O PENSADOR E OS PENSADORES
Em uma coletânea de ensaios, Fernando Henrique Cardoso revisa os intelectuais que o formaram
Político habilidoso na formação de alianças que possibilitaram a grande arrancada modernizante do país, Fernando Henrique Cardoso nunca abandonou por completo o pensamento acadêmico.
Foi, à sua maneira, um presidente-sociólogo. “Sempre tive reservas à política com ‘p’ minúsculo, da articulação, do jogo. Participei dela quando precisei, mas, como sou sociólogo, era a grande política que realmente me interessava”, disse a VEJA.

Em seu novo livro, Pensadores que Inventaram o Brasil (Companhia das Letras; 336 páginas; 39,50 reais, ou 27,50 reais na versão eletrônica), o ex-presidente mescla sua excepcional capacidade de análise com um toque de memorialismo para escrever sobre intelectuais que, como ele, pensaram sobre o Brasil.
O livro reúne dezoito ensaios que analisam a obra de dez pensadores brasileiros, de Joaquim Nabuco a Celso Furtado. Entre esses textos, há material inédito e artigos, prefácios e conferências já publicados, mas revisados para a coletânea.
Um dos perfis que vêm à luz pela primeira vez é “Um crítico do estado: Raymundo Faoro”, dedicado ao autor de Os Donos do Poder. Nomes importantes da história intelectual do país, como Rui Barbosa e Oliveira Viana, ficaram de fora.
Explica Fernando Henrique: “Não é um livro que narra a história do pensamento brasileiro. Meu intuito foi apenas falar sobre grandes autores que me influenciaram, na sociologia ou na política. É um livro muito pessoal”.
Fernando Henrique conviveu com a maioria dos autores que agora analisa. Foi aluno de Antonio Candido e de Florestan Fernandes – de quem mais tarde foi vizinho e assistente – na Faculdade de Filosofia da USP. Dividiu casa com Celso Furtado durante o exílio no Chile. Sérgio Buarque de Holanda fez parte da banca que examinou seu doutorado, e Faoro foi seu companheiro na militância contra o regime militar.
Essa familiaridade não só com a teoria mas também com os autores resulta em uma combinação deliciosa. Em uma passagem, Fernando Henrique descreve o temperamento explosivo de Florestan, que certa vez gesticulou “com tal força numa reunião em Nova York, no Council of the Americas, que os americanos presentes me perguntaram: mas o que é isto? Porque o gesto não tinha correspondência na cultura americana”.
Os autores examinados são já tidos como clássicos. Por isso, como observa o historiador José Murilo de Carvalho no posfácio, o ensaísta às vezes repisa concepções consolidadas no meio acadêmico – mas sempre com um toque pessoal que esclarece conceitos, desvenda teorias, ilumina questões complexas.
Através do exame desses grandes pensadores do Brasil, tem-se um vislumbre do presidente-sociólogo.
22 Comentários
FHC, que saudades! Como mais de um leitor já escreveu neste blog, "eu era feliz... E SABIA!!!"
Reidson, você só vem aqui amolar a paciência. Por que insiste, se põe tanto defeito no blog? Melhor sumir, não é mesmo?
Quem nasceu para apedeuta nunca chega a FHC.
Acho que a verdadeira razão da fuga de Lula para a África, foi a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a ABL; não foram as manifestações populares e nem para colocar mais um no bolso às custas de empreiteiras. Nada o corrói mais do que ver as luzes sob seu mais histórico rival...
Obrigado pelo Plano Real, mas não precisava radicalizar com esse assunto de drogas. A festa do livro teve "maconha, vinho e javali para todos"? Clínicas de reabilitação para viciados ficam por conta de futuros aliados não é mesmo? O sofrimento fica com as famílias brasileiras. Desculpe, não pode falar isto por causa das regras do blog.
Que maravilha FHC, que linda fotografia!!!!!. É de pessoas como ele que o Brasil necessita para responder o clamor das ruas. Não e assim Sr. Setti?. Já os outros, aqueles que saem mal na foto, são o motivo do fracasso brasileiro. Não é assim? Abraço.
Marcia Maria, esse sempre foi um Blog democrático, que até hoje sempre conviveu bem com ideias contrárias. O Ricardo normalmente não aceita falta de educação e civilidade. Ricardo, você sabe das minhas históricas diferenças quanto a boa parte das ações de seu governo. No entanto, o FHC pensador do Brasil deve ser lido. Já encomendei esse livro. Abraços.
Márcia Maria-30/06/2013 às 18:37.Como ainda há gente chegada em uma censura, não? Quer dizer que FHC enfrentou o apagão?Engraçado que o apagão foi em 2001,ou seja, ele teve sete anos para fazer isso... O apagão foi culpa de FHC,sim, devido à uma política privatista que entregou diversas geradoras e distribuidoras ao capital privado,ainda por cima sem exigir investimentos do mesmo no setor.
O Sr. Paranhos da Silva, não tem altura e nem estatura intelectual ou educação para frequentar esse blog. Acho q o Sr.,não deveria aceitar ignorantes ou tentativas de corrupção intelectual de bar de vila. Aqui no Blog, esse Sr. ofende o bom nível de debate do blog. Ao querer dizer q o congresso se corrompeu a partir de FHC. E FHC enfrentou o apagão e resolveu o problema. Deixando uma infra estrutura. Q até agora não sofreu nenhum reparo.
D. Setti, o Zé da Silva, acha q pode estabelecer comparações com o lado da corrupção do governo Lula,é um desprovido intelectual q nem o grande líder dele. Abs.
Don Setti, Os Silvas não são fácil, ainda mais da Petrobrás, Pode até ser, mais ninguém soube conservar com mais força a corrupção durante esse período q esse partido PT. Chegou a ser um manual de como se envolver com isso. Acho q negar isso como comparação, é q não se pode ser idiota nem hipócrita. Abs.
Ricardo, Permita-me chamar um palavrão, p......... como aguentar o discurso chinfrim do PSDB, de que adianta entrevistar o Professor Cardoso para falar de INTELECTUALIDADE, queremos AÇÃO.......já estou ficando de saco cheio disso.
Os Intelectuais – Um Brasil de Eternos Imbecis Milton Simon Pires Desgraçadamente com a camisa do time do meu coração nas mãos. Recentemente, numa das aulas do curso de espanhol que venho (talvez me preparando para chegada dos colegas médicos cubanos..rss) fazendo, surgiu um acalorado debate entre a turma. Queria o nosso professor, natural da Andaluzia, saber se no Brasil os intelectuais são suficientemente valorizados na sua atividade profissional. Respondi, causando “verdadeiro horror” nos colegas brasileiros, que não sabia como abordar a questão pois acreditava (e continuo acreditando) que não existem intelectuais no país faz muito tempo.. A reação da turma aumentou mais: perguntaram como podia eu dizer algo assim. Fizeram questão de lembrar que temos Chico Buarque, Luís Fernando Veríssimo e tantos outros dignos de receber esta designação: intelectuais. Fiquei perplexo! A primeira pergunta que fiz foi – o que vocês entendem pelo termo intelectuais? Não houve um só colega capaz de fazer a distinção correta entre ser um verdadeiro intelectual e alguém com “cultura geral”. Pois bem, nessas rápidas linhas, vamos tentar falar um pouco sobre a diferença e, como dizem os açougueiros, vamos por partes. Na Europa dos séculos XII e XIII o conceito de universidade não era nem de perto algo próximo da vida do cidadão comum. Lugares como Bolonha, Paris e Oxford (apenas para citar as 3 mais antigas instituições de ensino superior) estavam tão distantes da realidade de um europeu como a NASA está de um brasileiro hoje. O que havia de comum nessas escolas não era o que ensinavam, mas sim o perfil cultural de quem entrava nela – gente e mais gente que vivia, como diria Carl Sagan, num mundo assombrado pelos demônios. Em outras palavras, não havia forma de cultura que pudesse escapar da visão religiosa da sociedade. Seria exagero dizer que os alunos todos entravam na universidade com uma visão semelhante a respeito da vida? Todos eles acreditavam em Deus e viviam aterrorizados pela perspectiva do pecado e de uma eternidade no inferno. Nesse sentido, cabia a Universidade receber um “monte de gente que pensava igual” e mandar para o mundo um “monte de gente pensando diferente”. Foi para isso que a chamada cultura superior se organizou nas universidades. Dessas instituições saíram pessoas como Paracelso, Nicolau Copérnico, São Tomás de Aquino e tantos outros que mudaram a História. Isso foi possível porque lhes foi oferecido um ambiente de trabalho e estudo onde puderam exercitar uma razão livre. Suas idéias eram revolucionárias pelo fato de não partirem de nenhum tipo de cosmovisão. A história jamais foi para esses homens um gigantesco mecanismo, complexo como um grande relógio, a ser desmontado e compreendido através de regras e leis imutáveis – duvido muito que Hegel tivesse lugar de professor nos primórdios da universidade. É nessa, e absolutamente somente nessa hipótese, que pode alguém se tornar verdadeiramente um intelectual. Quando afirmei aos meus colegas de curso que não existiam mais intelectuais brasileiros há muito tempo era isso que eu queria dizer. Era à morte de um pensamento brasileiro verdadeiramente original que eu estava me referindo. Isso aconteceu no país em função da apropriação total da razão livre por um partido político. Afirmo (peremptoriamente como gosta de dizer um certo governador gaúcho) não haver espaço para produção acadêmica dentro da universidade brasileira nas áreas de história, filosofia e ciência política, para aqueles que não tem uma interpretação marxista da realidade. Filiados ou não a essa organização criminosa chamada Partido dos Trabalhadores, os estudantes até podem buscar lugares como a UFRGS, USP ou UNICAMP com idéias diferentes mas todos, ou a grande maioria, vão sair de lá lá pensando quase sempre a mesma coisa – Deus não existe, liberar as drogas pode ser algo bom, a Terra está aquecendo, viva o casamento gay e as ONGS, e por aí vai.. Em texto anterior em que citei The Closing of American Mind e Tenured Radicals eu expliquei como esse trabalho se deu de forma metódica e constante a partir da década de 1960. Seu resultado pode ser visto hoje numa sociedade em que ser intelectual é ter escrito alguma letra de samba durante a Ditadura Militar ou ter uma coluna na Revista Playboy. É essa nação que jamais ouviu falar em Gilberto Freire, que não tem a mínima idéia de quem seja Otto Maria Carpeaux, Mário Ferreira do Santos ou Olavo de Carvalho que acredita que Paulo Coelho é tão importante quanto Machado de Assis ou que Caetano Veloso tem a dimensão de Heitor Villa Lobos. Pobre país que perdeu a única referência importante que deve ter quando busca a verdade – a honestidade dos seus intelectuais. Sem ela ainda vamos fazer grandes Copas do Mundo, vamos continuar com mulheres maravilhosas e grandes carnavais encantando todo resto do planeta e sendo para sempre eternos imbecis. Porto Alegre, 11 de maio de 2013 cardiopires@gmail.com
Quando penso no FHC, penso no lulla tambem, e me vem a imagem de eu calcando um tenis caro sujo de coco de cachorro. Vida longa FHC, meu PRESIDENTE!
Fernando Henrique não teve somente o meu voto nas duas eleições em que saiu como o grande vencedor, mas também a minha aprovação. No seu período de governo não me recolhia de medo ou vergonha quando nos representava em qualquer lugar do mundo, certa de que, elegante, estadista, culto, bem informado, seria destaque por essas mesmas qualidades e não pelo oba-oba de uma verborragia eleitoreira. Foi honesto e corajoso quando admitiu que pelo bem do governo e do país era preciso muitas vezes abrir mão da popularidade e tomar medidas duras. Conselho que, aliás, repassou ao debutante-estagiário lula que o sucedeu. Perfeito não foi, que ninguém o é, fez escolhas duvidosas para a sua equipe de governo, mesmo assim a performance de alguns dos seus ministros foi exemplar. Nestes tempos em que o Palácio do Planalto chegou ao cúmulo de promover a venda das malfadadas caxirolas e criar ministérios tão incompetentes e alienados que não se encaixam para resolver uma crise do tamanho desta que domina o país, bate a saudade de um tempo em que, se não éramos totalmente felizes, pelo menos não vivíamos estressados. Sem palanques eleitoreiros que passam como bolhas de sabão, de FHC fica a imortalidade do conteúdo e da obra. Parabéns, Presidente, e obrigada!
FHC,o rei do apagão,o engraçado que a maioria dos corruptos que estão infiltrado no congresso já fizeram parte do seu governo,inclusive o Renan chegou a ser ministro da JUSTIÇA.
Ricardo, O Professor Cardoso merece todo o meu respeito, acredito que tenha contribuído bastante ao desenvolvimento do País, a História de sua biografia terá registro de boas páginas de seus feitos. Agora, já que vc com frequência mantém contato com o mesmo - recentemente o entrevistou - a pergunta que não quer calar..... como ele aceitou passivamente na última eleição - Serra x Dilma - ser excluído do processo e dos temas da campanha, ele com toda a sua intelectualidade permitiu aquele fiasco, alias esse erro cometido por ele e seus parceiros, estão nos custando CARO. Primeiro ele aliviou a barra do molusco, quando o mensalão estourou - liderou passar o pano - não permitiu o processo de impeachment, segurou a oposição, depois não chutou o balde quando o marqueteiro do Serra - o idiota do Gonzales - criou aquela idiotia de que era preciso renegar os anos de FHC, acredito que para um intelectual como ele, omissão não combina nada, nem tudo está pedido, ainda acho que ele poderia nos representar novamente, caso não aceite, que deixe um pouco de lado a fleuma de intelectual, que AJUDE-NOS a extirpar o câncer que está na praça, que sem querer ele acabou ajudando a crescer. abração.
CORREÇÃO Ví vassourinhas, ví um Jango frouxo e vermelho que devia ser de vergonha, ví uns ditadores que morreram pobres...
NÍVEL, CULTURA, CONHECIMENTO E HONESTIDADE É TÃO BOM! Foria bom se todos sessem assim, principalmente aqueles que acham que podem ser líderes de alguma coisa pública. Fernando Henrique, eu lhe dou meu perdão pela seu maior erro, o de ter criado a reeleição, pelo fato de que durante minha vida, que começou em 1946, eu não ter visto nenhum líder brasileiro da forja que o Sr. e sua falecida e saudosa esposa representou. Ví vassourinhas, ví um Jango frouxo e vermelho que devia ser de vergonha, ví uns ditadores que não morreram pobres, ví Collor uma víbora criada no pior coronelistmo possível, ví Sarney fraco e perdido mas esperto, e finalmente ví o Senhor Fernando Henrique Cardoso, que inaugurou um momento mágico para o nosso país. Depois só desgraça, com o lullopetismo, baseado na filosovia comunista e desenvolvida no Fórum de São Paulo. A colheita dessa safra já está sendo feita...e só vem mer...da.
Nunca votei em FHC, mas tenho o dever moral de reconhecer: ele é um feliz e raro acidente na vida política nacional, sobretudo em cargo de tanta expressão e importância quanto a Presidência da República. Inteligente, culto, carismático e sedutor, FHC é a antítese (a antinomia, diria I.Kant) do lixo abjeto que prospera na vida pública brasileira no último meio século. O novo livro é um ligeiro e agradável conforto intelectual da primeira à última linha. E olha que ele não conseguiu, se não me falha a traçoeira memória, os 1.398 títulos de "doutor honoris causa" como seu (in)digno sucessor, ora escondido na África, protegendo-se de Rosemary e da justa e procedente ira popular contra a década de roubalheira de dinheiro público e degradação institucional promovida pelo lulopetralhismo.
Eleição merecida.FHC tem uma obra como sociólogo que não combina com o governo de viés neoliberal que liderou.Eu só não entendi o que Julia Carvalho quis dizer com "Político habilidoso na formação de alianças que possibilitaram a grande arrancada modernizante do país". Será que ela se refere à nomeação de Renan Calheiros como Ministro da Justiça,ao apoio à ACM para presidir o Senado ou a benção a Jader Barbalho para também presidir a Casa? Engraçado: o que na Era Lula a imprensa chamou de fisiologismo, no governo FHC foi chamado de "habilidade política" . Só rindo,mesmo...
D. Setti, Apesar de discordar sobre o meu Xará Maciel, concordo q o FHC é um P, tb de (papel) histórico na modernidade do país. Abs.