
Três vezes chamado de “nosso eterno presidente” e uma de “o unificador do século XX” por um orador que também não se esqueceu de louvar-lhe a “voz máscula e serena”, o general Emílio Garrastazu Medici foi homenageado terça-feira passada na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Inaugurava-se, na ocasião, uma praça no campus universitário que leva seu nome e, ao que parece, em novo hábito na até agora recatada e discreta vida do ex-presidente [que deixou o poder há um ano e sete meses]: o de viajar, ouvir discursos, receber homenagens e conversar com políticos e chefes militares.
O inflamado orador – André Prezzi, presidente da comissão e formatura dos estudantes de comunicações, que escolheram Medici como patrono em 1974 – teve sua opinião quanto à eternidade do cargo honorífico compartilhada pelo reitor da PUC, Benedito Fonseca, que falou em seguida e louvou a obra do governo anterior. Como resposta, um servidor da PUC leu a protocolar mensagem que o ex-presidente deixara, por escrito, no livro de visitas da reitoria. Medici não discursou.
Visitantes
O general chegou segunda-feira à noite, e na terça, às 8h03, visitou a Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Depois das solenidades na PUC, almoçou num hotel com os formandos. Sempre protegido por uma dúzia de agentes de segurança, visitou ainda uma creche da Prefeitura e no dia seguinte, antes de voltar ao Rio, [onde vive], concedeu audiência ao prefeito de Paulínia – cidade vizinha incluída na área de segurança nacional e sede de uma refinaria da Petrobrás.
O prefeito, entretanto, não foi o único visitante recebido por Medici no Hotel Vila Rica: lá estiveram, entre outros, o general Mário de Souza Pinto, comandante da 11ª Brigada de Infantaria Blindada, o coronel José Maria Camargo, comandante da Escola Preparatória, o deputado Ricardo Izar e o ex-governador Laudo Natel, ambos da Arena.
O ajudante-de-ordens de Medici, major Ivo Pachalli, assegura que tudo isso é fora da rotina, pois o ex-presidente só sai do Rio para atender “a convites irrecusáveis” e em casos extremos.
(Reportagem de Ricardo Setti publicada na revista VEJA a 15 de outubro de 1975, sob o título original de “De volta às visitas”)
[Nota importante: leia este outro post, em que mostro evidências e explico que esta matéria foi cortada pelo censor de plantão na Redação de VEJA porque, sem esforço, descobri que o “convite” para as homenagens ao ex-ditador fora, na verdade, uma oferta feita por sua assessoria para que ele participasse da solenidade como figura principal].