Rupert Murdoch, o bilionário australiano naturalizado norte-americano (Foto: @Wikimedia Commons)

Há muito a dizer sobre essa crise que se abate sobre o império de comunicações do magnata australiano naturalizado norte-americano Rupert Murdoch, proprietário, entre outros, de colossos como The Wall Street Journal e de emissoras de TV nos EUA, Reino Unido e Austrália, envolvendo espionagem de pessoas e uma série de outras ilegalidades praticadas pelos editores do mais que secular tabloide britânico de fofocas e escândalos The News of the World, de seu grupo, que Murdoch resolveu fechar.

Mas um ótimo resumo próximo ao que eu gostaria de ter escrito veio de Joe Nocera, do jornal The New York Times.

Transcrevo o trecho final, que não diz tudo sobre Murdoch, mas diz o suficiente.

Confira:

Embora em geral [eu] admire empreendedores que constroem gigantescas companhias, Murdoch – ainda que nos tenha agraciado com Homer Simpson – não tem sido uma força voltada para o bem em sua longa carreira. A Fox News, e seus Bill O”Reilly e Glenn Beck, contribuiu consideravelmente para vulgarizar o discurso político. Seus tabloides baixaram o nível do jornalismo de três continentes. E infringiram rotineiramente a lei em pelo menos um deles.

Ele calou seus jornais de maior prestígio, como The Times, de Londres [que circula desde 1785]. Desprezou as normas da propriedade cruzada, cuja finalidade é impedir que um homem ou uma companhia detenha poder excessivo – e depois usou a força de seu lobby para que essas normas fossem abrandadas. Colocou o servilismo em relação à China na frente da liberdade de imprensa, incluindo com o veto à publicação de um livro que deveria sair por sua unidade da editora HarperCollins, ao qual as autoridades chinesas tinham feito objeções. Usou continuamente seus veículos de comunicação para premiar os aliados e punir os inimigos.

Murdoch nunca se satisfez com a derrota da concorrência, como os empresários mais decentes. Ele só fica feliz quando pisa no pescoço do concorrente e aperta. O blogueiro Felix Salmon desenterrou um depoimento sobre um executivo que dirigia uma das divisões mais obscuras de Murdoch. “Vou destruir você”, o homem teria dito a um concorrente. “Trabalho para um empresário que quer tudo e não compreende quando alguém diz para ele que não pode ter tudo”.

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12 Comentários

Jefff em 25 de julho de 2011

Legalização das drogas???!!! Ué O FHC agora é do PT?

Jotavê em 25 de julho de 2011

Agora, na Inglaterra, discute-se a criação de um comitê de controle da imprensa, e a possibilidade de o Judiciário impor uma espécie de "censura prévia" a determinadas publicações, sem nem mesmo abrir a possibilidade de essas publicações mencionarem a existência dessa censura. O comitê de autorregulamentação não funcionou - nem tinha como funcionar. Raposas nunca foram muito confiáveis para fazer a guarda dos galinheiros. A discussão certamente virá para o Brasil. Acho que tem que haver um comitê, sim. A imprensa é um poder de fato, e tem que ser controlado, como qualquer poder, ou tende a descambar para o abuso. Esse comitê tem que ter poderes efetivos sobre a imprensa. Não pode ser uma espécie de titia dando puxõezinhos de orelha nos sobrinhos. Tem que impor decisões que só seriam contestáveis na Justiça. Só que essas decisões não poderiam, na minha opinião, determinar a SUPRESSÃO do que quer que fosse. Nenhuma notícia, nenhuma opinião, nenhum dado seria TIRADO de circulação. Mas, quem se julgasse ofendido, poderia pedir direito de resposta. Isso tem que ser regulamentado sabiamente, de modo a impedir a instrumentalização do direito de resposta por gente sequiosa por espaço publicitário gratuito. Mas é perfeitamente possível distinguir o joio do trigo. Para isso servem as leis, e para isso serviria esse comitê. No Brasil, o direito de resposta é uma piada, uma ficção. Quantas vezes você, que me lê, viu algum direito de resposta publicado na semana que passou? Se viu, teve mais sorte que eu. Não sejamos hipócritas, portanto: isso não existe, ou só existe como exceção que confirma a regra. Quando chega, se chega, o ex-proprietário da Escola de Base é um senhor de 65 anos, desempregado, tendo que se virar como pode para sobreviver. "Ah, mas tem a compensação pecuniária por calúnia e difamação." Não refresca. De mais a mais, que continue existindo. Ninguém está defendendo aqui sua extinção. Mas que exista ADICIONALMENTE ao direito que o cidadão tem de se defender publicamente no mesmo espaço (primeira página, por exemplo) em que foi caluniado, e ao direito que o PÚBLICO tem de conhecer os dois lados de uma história, e não somente aquele que o veículo achou conveniente veicular. Ou seja, a respota aos abusos da imprensa não pode ser MENOS democracia. Não pode ser a censura. A resposta é MAIS democracia. Mais informação. Mais liberdade.

andre em 24 de julho de 2011

Quando o PT publica arquivos sigilosos não se diz nada! O discurso de direita é vulgar? E como seria o não vulgar: Orgias, casamento gay, legalização das drogas!

Alexandre em 23 de julho de 2011

O pior de tudo é que vai servir de pretexto para futuros ditadores de plantão. Já não bastasse as mazelas dos dirigentes, agora vem a banda pobre da imprensa, se é que podemos chamar isso de imprensa. Fora murdoch e sua gang!!!!!

Jotavê em 23 de julho de 2011

(ficou faltando o finalzinho... rs...) mas tem a OBRIGAÇÃO de não ocultar a existência do outro lado.

Jotavê em 23 de julho de 2011

Eu acho que tem que haver algum tipo de controle. Jamais em termos de censura à informação veiculada - isso, jamais - mas em termos de garantia de pluralidade. Você pode criticar à vontade, pode falar o que quiser. Mas tem que abrir o seu espaço para resposta de quem foi acusado e de quem discorda de você. Não é fácil regulamentar isso, mas é possível e, acima de tudo, necessário. Quem tem um veículo do tamanho da Fox News não tem a menor preocupação com processos por calúnia e difamação - por natureza, difíceis e demorados. Enfia na coluna dos custos, e calcula os prós e contras. Tem que haver uma garantia PRÉVIA de isenção MÍNIMA. O jornal, revista, emissora de rádio, televisão ou portal da internet pode "tomar posições". Mas tem a OBRIGAÇÃO

rossini thales couto junior em 22 de julho de 2011

RUPERT MURDOCH deve ser do tipo de pessoa que não admite, sob hipótese alguma, levar um não pela frente. No mais, só nos resta aplaudir o texto que o amigo oportunamente transcreveu. O jornalista em questão foi extremamente conciso ao descrever num curto resumo a figura e as deletérias ações do magnata australiano. Contudo, por piores que sejam os métodos usados pelo Sr.Murdoch, não se justifica nenhuma tentativa, como defendem alguns, de reprimir tais abusos com o uso do famigerado "controle da imprensa", ainda que velado. Abração

jeffff em 22 de julho de 2011

Suposta? Isso que é jornalismo "independente!

Jefff em 22 de julho de 2011

Você ofendeu, sim, porque não se limitou a abordar a suposta semelhança física, mas disse que os dois são a mesma coisa -- e, definitivamente, não são.

Jotavê em 22 de julho de 2011

É um estilo de imprensa que tem que ser repensado. No mundo todo. É absolutamente necessário termos uma imprensa vigilante, denunciando os erros dos governantes. As reportagens que levaram a essa limpeza no Ministério dos Transportes são um bom exemplo disso. Outra coisa muito diferente é uma imprensa que pretende ser "player" no jogo político, e passa a selecionar suas denúncias, de modo a beneficiar este e prejudicar aquele. A Fox News definitivamente não é um exemplo a ser seguido. Não existe diferença nenhum no RESULTADO apresentado pela Fox News e por um jornal como o Granma, de Cuba. Nos dois casos, a denúncia seletiva é o principal mecanismo de manipulação: mostra-se o que é bom, esconde-se o que é ruim. Desceram o pau no pobre do embaixador Ricúpero por conta daquela frase dita em off. Quem um membro do governo faça isso é perfetamente COMPREENSÍVEL. O que é inadmissível é que JORNALISTAS façam o mesmo. É isso que precisa acabar. O estilo Murdoch de noticiar tem que ser vencido pelo estilo democrático, aberto à diversidade e (principalmente) à HESITAÇÃO.

Jefff em 22 de julho de 2011

Seu comentário, injusto e mal-informado, para não dizer mentiroso -- você não tem ideia de quem é, de como pensa, de como age, dos valores que adota a pessoa que criticou -- foi suprimido tendo em vista as regras de civilidade do blog. Veja o link http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tema-livre/amigos-depois-de-mais-de-8-meses-de-blog-e-40-mil-comentarios-nao-havera-mais-asteriscos-comentarios-com-linguagem-inconveniente-serao-deletados-vejam-minhas-razoes-e-as-regras-para-comentarios/

Reynaldo-BH em 22 de julho de 2011

Meu prezado Ricardo Setti, vou - com sua permissão - tangenciar a notícia deste post para comentar mais uma aberração do lulo-petismo. O que não é novidade. Menos ainda vindo do ideólogo do mesmo, o famigerado Zé Dirceu. Usando o caso do Now, Zé caroço se dispôs a montar uma teoria que defende o tal controle sobre a imprensa. Naquela coisa que ele insiste em chamar de blog. Usa o argumento que deveria ter havido um "controle externo" sobre o Now que impediria os crimes cometidos pela gang de Murdoch. Assim é o Zé Caroço. Não satisfeito em tentar reescrever a história do Brasil, quer também adequar os fatos - mesmo imediatos! - à lógica do pensamento único. Na Inglaterra existe sim um orgão independente de acompanhamento (nunca censura, e sem poderes para tanto!) da imprensa. E foi acionado! Sem resultados. Idem a Scotland Yard, Justiça, etc. Ou seja, os organismos estatais. Quem foi então o starter do fim do Now e do inferno astral deste tubarão da imprensa? A LIBERDADE DE IMPRENSA! Foi o The Guardian, concorrente, que trouxe à luz os desvios éticos do Now e até mesmo do The Sun. (Não se tratava de jornalismo. Era banditismo. Isso Zé Caroço jamais irá entender!). Não houve necessidade de CENSURA, controle ou organismos oficiais. A IMPRENSA LIVRE fez, como sempre, o seu papel! O exemplo do chefe da quadrilha só reforça os argumentos de todos nós, que precisamos e defendemos a liberdade de informar, exatamente ao contrário do que defende o deputado cassado por corrupção. NENHUMA VOZ levantou-se na Inglaterra (ou no restante do mundo livre) em defesa de instrumentos de censura e controle. Por aqui, ouve-se os latidos dos pitbulls que preferem a mordaça ao livre circular de idéias. O Now foi fechado (já foi tarde!). A BskyB não será exclusivamente de Murdoch. A editora-chefe, presa. James Murdoch pego em mentira no Parlamento. E sem necessidade de atos de exceção. Só respeitando o direito de ser LIVRE e ter informações LIVREMENTE circulando. Como o Guardian fez! No fundo os extremos se atraem. O que separa um Murdoch de um Zé Dirceu é somente o interesse imediato. De ganhos. E um Now de um PT, apenas o espaço que ocupam. Abraços.

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