
A excelente jornalista Lúcia Guimarães escreve um interessante artigo no Estadão comentando a quase certa eleição do democrata Bill de Blasio como prefeito de Nova York nas eleições de amanhã, 5 de novembro deste 2013, e aproveita para baixar o sarrafo no saldo dos 12 anos de gestão do bilionário Michael Bloomberg à frente da grande metrópole — embora, é sempre bom lembrar, o ex-republicano, hoje independente, tenha sido sempre eleito por folgadas maiorias.
Um dos pontos de crítica de Lúcia ao prefeito Bloomberg tem a ver com a polícia, o New York Police Department (NYPD), que Lúcia chama de “a maior e mais bajulada força policial do Ocidente”. Ela informa, a certa altura do artigo: “Este ano, a prática conhecida como stop and frisk, deter e revistar, comemorou 5 milhões de abordagens de nova-iorquinos, a esmagadora maioria negros e latinos. A tática, da qual o xerife Kelly [o já por duas vezes chefe de polícia, Raymond Kelly] se orgulha, é objeto de uma ação civil.”
Vamos tirar desse número a eventual conotação de racismo — e digo “eventual” porque, além de boa parte da força policial ser integrada por negros e descendentes de hispano-americanos (impropriamente chamado de “latinos” nos Estados Unidos), o índice de criminalidade entre as duas populações é, proporcionalmente, superior à da população “branca”.
Tirando as eventuais conotações de racismo, pois, já imaginaram que maravilha se pudéssemos, por aqui, ostentar números semelhantes em nossas grandes cidades — onde os cidadãos de bem vivem ao Deus-dará?
Sim, porque, enquanto em grandes cidades do mundo desenvolvido é difícil alguém ficar 10, 5 ou mesmo 3 minutos sem ver um carro de polícia em patrulha, nas metrópoles brasileiras é perfeitamente possível passarmos DIAS não sem divisar um veículo da política, mas um único e mísero policial! É o que faz com que poderíamos chegar à conclusão de que, na verdade, se isso for levado em consideração, o brasileiro é o povo mais pacífico e ordeiro do mundo…
Com as devidas desculpas à Lúcia, jornalista brilhante e pessoa de finíssimo trato, não sei se Nova York seria hoje uma cidade segura — depois de haver ocupado os primeiros lugares entre a metrópoles mais perigosas dos Estados Unidos durante muitos anos — sem que a polícia abordasse pessoas para revista, ainda que em grande número.
Se for demais, que tal se o Brasil importasse, metaforicamente, esse excesso de abordagens — e as fizesse sempre dentro da lei?
(Post de Ricardo Setti, de São Paulo, originalmente publicado a 4 de novembro de 2013 no blog que o autor manteve no site da revista VEJA entre 2010 e 2015)
13 Comentários
O Contingente Brasileiro e Pouco e Uma Policia que Ganha Pouco Estar Desestimulada,Nos Último anos Policial Virou Sinônimo de Gladiador,Trabalham Por Amor a Farda Ser Policial no Brasil e Lutar Em Dois Exércitos.
Uma resposta a altura, parabéns. Hoje vivemos em uma terra sem lei, onde o índice de barbárie só aumenta. De fato não vejo uma luz ao fim do túnel.
Boa noite, Ricardo. Espero que esteja realmente bem! Adoro seu blog, você trata dos mais diversos assuntos de maneira clara e direta e apesar de nem sempre concordar com o blogueiro (o que acho saudável), admiro-o muito. Interessante este post. Que diferença de nossas polícias! Certa ocasião, você gentilmente respondeu a um comentário meu sobre a rivalidade das polícias civil e militar citando a tentativa de unificação do Governador Mario Covas. Eu era muito novo quando da proposta e não me lembrava, no entanto comecei a pesquisar sobre o tema (não só nosso sistema como de outros países) e vi como o Brasil é atrasado no assunto, sistema policial, que na verdade não passa de um modelo arcaico fundamento em castas com uma nulidade chamada inquérito policial e indiciamento (peça dispensável, adotada apenas no Brasil, pois o importante seria uma investigação séria com oferecimento de um simples relatório, imparcial, ao ministério Publico). Entre os diversos projetos para mudar a situação, existe um que me chamou bastante a atenção e simpatia, trata-se da PEC 51/20013 de autoria do Senador Linderber Farias (que eu particularmente não gosto enquanto politico, porém fez um projeto interessante). Como você conhece bem a realidade de locais com policias modernas, e ao mesmo tempo tem contato com a situação brasileira, caso você tenha um tempo (sei que que não tem) poderia fazer um post sobre o tema? Essa PEC permite aos estados decidirem sobre seus respectivos modelos de polícia (afinal somos uma federação), desde que as mesmas sejam desmilitarizadas, tenham ciclo completo e carreira única. Notei, procurando em sites da categoria, que existe um grande apoio por parte de policiais e uma grande resistência por parte de delegados e oficiais da PM, estes serem a favor ou contra é um direito, mas em sua maioria os artigos (dos delegados e oficiais) distorcem o projeto afirmam pontos que não estão no mesmo (não vou explicar para não me alonga mais). Enfim, essa PEC, creio eu, talvez aproxime nosso sistema policial das mais avançadas policias do mundo. Ao passo que respeita as particularidades dos estados (em São Paulo, por exemplo, poderíamos deixar as policias de área com os municípios, os grandes departamentos (DHPP, DEIC) ficariam com o Estado e este poderia ainda criar uma policia universitária para as universidades paulistas (resolvendo, ou mitigando) parte dos conflitos entre PM’s e estudantes). Grande Abraço, Thiago
Setti os devaneios da Lucia serão realizados vem aí um democrata cheio de platitudes e idéias lindinhas Logo logo será segurança "sub-zero"
Deve ser por causa de tamanha injustiça que la a a gente anda tranquilo e aqui olha por cima do ombro o tempo todo. E estao querendo soltar o Champinha! (desculpe a falta de acentos)
Só discordo de uma coisa: viajo todo ano à Europa e lá não se vê tanta polícia nas ruas não. Em São Paulo há muito mais policiais nas ruas do que em Paris ou Roma. Ocorre que aqui há muito mais bandidos também, e, ao contrário de lá, prontos e equipados para matar. Quanto a Lúcia Guimarães, por mais que eu tente, nunca consigo concordar com ela. Então eu vejo mais do que você, hahahaha... Tudo bem, o importante é ter uma polícia que funcione. Abraços
E por estas coisas que bandido deita e rola em Banânia.
A revista policial é apenas a ponta do iceberg do bem sucedido combate da polícia de NY à violência. O problema é que o Brasil não quer investir num tripé básico para que o país dê um salto de qualidade. Esse tripé eu chamo de três Ps = policiais, professores e políticos - de qualidade. A polícia de NY, como paga muito bem e dá infra-estrutura, consegue para os seus quadros os melhores candidatos. Ser policial é uma carreira que atrai a classe média. Aqui, no Brasil, se o filho dum casal que mora numa Vida Madalena da vida disser que quer ser policial ou dar aula para alunos do ensino médio, a família vai ficar em choque, pensando "Onde falhamos?". E, o bolo da cereja é que os policiais americanos contam com uma sistema judiciário que é rápido e eficiente, evitando a sensação que os bons policiais têm : a gente prende, mas vem a justiça e no outro dia solta.
O CPP no art 240 § 2º exige a fundada suspeita para a abordagem policial. Portanto amigo se as polícia forem olhar a lei o que ocorrerá será a diminuição do números de abordagens.
Aqui a polícia não tem respeito. Aqui a polícia não pode agir nem impor a lei. Aqui existem manifestações para que ela seja afastada de universidades. Aqui exigem que ela não utilize de ferramentas para conter turbas.
Se ela acha que o stop'n'frisk vai acabar com o demagogo do Blasio, está redondamente enganada. A verdade é que desde Giuliani, o novaiorquino não abre mão da segurança, nem que para isso lhe passem a mão. Agora, se ela não gosta de polícia, vem ser "feliz" aqui.
Ótima lembrança, caro Ricardo. Precisamos de uma polícia respeitosa dos direitos dos cidadãos, mas que SE MEXA! Os governadores não querem gastar gasolina. Os carros de polícia precisam circular o tempo todo para conferir segurança à população. E abordar pessoas suspeitas, sim, de qualquer cor ou classe social -- desde que não use de desrespeito ou violência, como infelizmente muitas vezes ocorre aqui, nas pouco numerosas operações desse tipo.
Me lembrei da piada de Juca Chaves: ao perguntar a uma moçoila se esta poderia ter, digamos, conjunção carnal por um miljhão de dólares, o ofertante ofereceu 100,00 reais pelo desejo explicitado. Ao que ouviu: "O senhor me toma pelo que?" A resposta foi na veia: prostituta já sabemos que a senhora é!Agora é só uma questão de negociação!" Agora, uma notícia deste país das jabuticabas informa que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), principal braço de espionagem do governo brasileiro, monitorou diplomatas de três países estrangeiros em embaixadas e nas suas residências. De acordo com um relatório obtido pelo jornal Folha de S. Paulo, o documento oferece detalhes sobre dez operações secretas em andamento entre 2003 e 2004 e mostra que até países dos quais o Brasil procurou se aproximar nos últimos anos, como a Rússia e o Irã, viraram alvos da Abin. Segundo dados elaborados pelo Departamento de Operações de Inteligência da Abin, diplomatas russos envolvidos com negociações de equipamentos militares foram fotografados e seguidos em suas viagens. O mesmo foi feito com funcionários da embaixada do Irã, vigiados para que a Abin identificasse seus contatos no Brasil. Os agentes seguiram os diplomatas a pé e de carro para fotografá-los e registrar suas atividades na embaixada e em suas residências, conforme o relatório. O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, ao qual a Abin está subordinada, reconheceu que as operações foram executadas e afirmou que todas foram feitas de acordo com a legislação brasileira. Ainda conforme a reportagem, as operações descritas no relatório da Abin têm características modestas, e nem de longe podem ser comparadas com a sofisticação da estrutura montada pela Agência de Segurança Nacional americana (NSA) para monitorar comunicações na internet. Simples assim.