O 30º aniversário da Guerra das Malvinas/Falklands já passou — foi no dia 2 –, mas mesmo assim acho que ainda é tempo de contar uma historinha que se passou na ocasião com um amigo deste espaço que prefere não ter seu nome divulgado. Não custa lembrar que a guerra começou depois que o então ditador argentino general Leopoldo Galtieri, a 2 de abril de 1982, tomou militarmente as ilhas, sob soberania britânica desde 1833.
(Em resposta, o Reino Unido enviou desde 13 mil quilômetros de distância uma poderosa força-tarefa de 28 mil homens composta por dois porta-aviões, cerca de 90 outros navios de guerra ou de apoio, 38 jatos e mais uma centena de aeronaves, incluindo aviões de transporte e abastecimento, dezenas de helicópteros de combate e aviões de apoio. O assédio britânico às ilhas começou a 1º de maio de 1982 e terminou a 14 de junhoa, com a rendição dos militares argentinos.)
Morador do Rio, o amigo que conta a história tinha uma tarefa profissional a cumprir que o levaria a Johannesbugo, na África do Sul, para rápido retorno ao Brasil.
Lembra ele:
“Era um voo diurno e antes de sair de casa disse à minha mulher:
— Acho que vou acabar vendo meu voo cruzar com a frota inglesa que está indo da Ilha de Ascenção, pra dar um calor nos argentinos!

(A ilha de Ascensão, a meia distância entre a América do Sul e a África, é uma possessão britânica que serviu de ponto de reabastecimento para a grande força-tarefa que o Reino Unido enviou de 13 mil quilômetros de distância para enfrentar os militares argentinos).
Continua o amigo deste espaço:
“Bem, na ida do voo, não vimos nada. Na volta, talvez a umas três horas de aterrissar no Aeroporto do Galeão, houve uma pequena agitação entre os passageiros, entre eles, Leonel Brizola — que em novembro daquele ano seria eleito governador do Rio de Janeiro –, que não tirava os olhos de sua janela e tratou logo de sacar um mapa.
“Olhando para fora vimos dois aviões de combate Sea Harrier voando ao lado esquerdo do DC-10 da Varig, mas não tardou e foram embora. Estavam obviamente operando a partir de algum porta-aviões e fazendo o patrulhamento da rota do comboio britanico.”
Os Sea Harrier, aviões capazes de decolar e pousar como helicópteros, tiveram papel importante na vitória britânica, após 74 dias de guerra.

E estavam mesmo fazendo patrulhamento. Os britânicos enviaram dois porta-aviões como parte da força-tarefa — a então nau capitânea HMS Invincible, fora de atividade desde 2005, e o HMS Hermes, que o Reino Unido vendeu à Índia.
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Se o avião da Varig tivesse sido abatido, o Rio de Janeiro não seria essa república se traficantes que se iniciou com o governo Brizola. A história seguiria outro rumo.
A matéria está incorreta. O avião interceptado foi um 707 e não um DC-10. Eu não mencionei interceptação, caro Guilherme. Basta reler o texto. E, infelizmente, o certo sou eu: a fonte desse textinho foi um tripulante do avião -- que era um DC-10. Um abraço
Prezado Ricardo. Confirmo a afirmação do Sérgio. Li, em algum lugar, um relato atribuído ao almirante inglês, comandante das operações - se não me engano ele teria escrito um livro sobre o conflito. O piloto de um dos Sea Harrier enquadrou o alvo, o DC-10, confundido com um avião argentino que ameaçava o porta-aviões (toda a frota que acompanha um pa tem como primeira missão protegê-lo); recebeu ordem de destruir o alvo, preparava para lançar mísseis de abate quando teve contato visual e abortou os disparos. O almirante escreveu que, caso o avião fosse abatido, as operações poderiam se complicar. Primeiro, no aspecto estratégico: a vastíssima costa brasileira se tornaria hostil e poderia ser utilizada pela Argentina. Segundo, nas implicações políticas: a repercussão internacional por abater avião civil; os EUA provavelmente ficariam neutros...
Setti, eu me lembro de ter lido uns 2 anos depois desse infeliz conflito, acho que em uma publicação estrangeira, que aviões britâncicos estiveram por um fio de disparar contra um suposto avião de patrulha/reconhecimento argentino que há dias estava acompanhando a movimentação da frota britânica rumo ao sul. Quando os aviões se aproximaram mais do "alvo", uma surpresa, tratava-se na verdade de um vôo comercial brasileiro, devidamente sinalizado por suas luzes de navegação. Mas acho que esse teria sido um vôo noturno vindo da África. A reportagem citava um militar britânico como fonte desses acontecimentos, e que disse ainda que, caso o engano inicial tivesse realmente levado a um ataque, dificilmente a Inglaterra teria persistido no conflito. Será? Alguém teria memória disso? O leitor SergioD mencionou episódio semelhante. Eu trabalhei intensamente na cobertura que VEJA fez da guerra, na ocasião -- pertencia à seção Internacional da Redação de VEJA, que deixei em 1983 --, e não me recordo de ter tido a gravidade que você menciona. Abração
Setti, um off topic. O poço não tem fundo. O que será que ocorre com a Argentina que parece andar de tropeção em tropeção? Quem tem uma explicação sociológica para este comportamento? Invadem um território para dar uma sobrevida a uma ditadura. E agora, rasgam contratos com a Espanha, parceiro histórico e que suportou (para além do esperado) a Argentina na crise do calote! Quem entende CK? http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1076759-governo-argentino-ja-tomou-controle-da-ypf-diz-agencia.shtml
Ricardo, pelo que me lembro, houve um certo estardalhaço na imprensa sobre essa "interceptação" feita pelos caças da Royal Navy, pricipalmente pelo fato de não terem tentado contatar o avião de cruzeiro, que era da VARIG. Abraços