BRASÍLIA, 3 de março de 196 –As investigações sobre as atividades de contrabandistas no País continuam revelando a existência de empresas norte-americanas envolvidas, havendo quadrilhas que há quase dez anos fazem contrabando de diamantes para os Estados Unidos. [As autoridades já sabiam de outras quadrilhas, mais antigas, algumas desmanteladas, outras que desapareceram].

Entre as principais quadrilhas cujas atividades estão sendo levantadas pelo DFSP [Departamento Federal de Segurança Pública, precursor da Polícia Federal] figura uma organização, com aparência legal, que explora diamantes, tendo ramificações na Guanabara, em Goiás, no Amazonas, em Belém do Pará e no exterior. Sua sede é nos Estados Unidos, para onde o contrabando é enviado por uma rede de aeroportos clandestinos. 

Desde 1957 

Por volta de 1957, os irmãos João e Vicente Lemos chegaram a uma zona de garimpo nas margens do rio Tocantins, com licença para exploração de diamantes, tendo feito pesquisas na região. Mais tarde, voltaram com os cidadãos norte-americanos conhecidos pelos garimpeiros do local como misters Maid, James Neves e George Anderson, que apresentaram registro da companhia “Anaquara S. A.”, subsidiária da firma norte-americana USABRAS, com escritórios na avenida Presidente Wilson, na Guanabara, e que possuía licença para explorar diamantes. 

Os cinco acamparam na ilha de Pixuí [PA], onde iniciaram as atividades com uma máquina para garimpo. Em 1959, ocuparam a ilha Alexandra, de propriedade do sr. Cícero Leandro da Silva, e situada em local próximo ao canal do Ananazinho [na margem esquerda do rio Tocantins, no município paraense de Marabá]. Ali construíram um aeroporto e montaram urna draga hidráulica com capacidade de movimentar 5 toneladas diárias, duas máquinas de cascalho, outro maquinário denominado torre Dagleand, também de 5 toneladas, e uma estação de radiocomunicação de longo alcance.

Ergueram ainda um depósito-almoxarifado e duas casas, contando com o auxílio de garimpeiros da região. Segundo se apurou, sua licença para exploração de diamantes já se esgotou há tempos. 

Ramificações

O trabalho dos contrabandistas vinha sendo acompanhado há vários meses pelo DFSP, descobrindo-se que a rede tem ramificações no exterior e que o escoamento dos diamantes era feito por uma empresa paraense, instalada em Belém, sendo seu nome até agora mantido em sigilo.

A Fundação de Assistência aos Garimpeiros recebera inúmeras denuncias sobre irregularidades na exploração de diamantes, quando a FAB concluiu as investigações sobre a existência de aeroportos clandestinos na Amazônia. O DFSP, investigando nas duas áreas, descobriu a quadrilha, mantendo-se em sua pista, por algum tempo, para conhecer toda a rede. 

(Reportagem de Ricardo Setti, de Brasília, publicada no jornal O Estado de S. Paulo a 4 de março de 1966 sob o título original de “Cresce a lista de implicados”)

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