BRASILIA, 10 – As figuras mais representativas do MDB, a começar por seu líder na Câmara, deputado Mario Covas [SP], e por seu secretário-geral, deputado [e ex-ministro da Justiça] Martins Rodrigues [CE], consideram que o partido se encontra, no momento, diante de uma encruzilhada: adquirir efetiva base popular, que lhe confira autenticidade, ou perecer.

Esse entendimento tem por base a convicção de que o MDB, na realidade, não é representativo da oposição brasileira, e mesmo um diagnóstico preliminar mostra que o partido está ilhado no Parlamento, sem o mínimo indispensável de contatos com os diversos setores da opinião pública.

Um dos fatos que confirmaram, recentemente, essa assertiva – e de maneira quase gritante – foi a reação estudantil à participação do partido nos recentes acontecimentos. A ”oposição legal” – e isso reconhecem seus principais líderes – sofre da classe estudantil e da opinião pública o mesmo indiscriminado descaso votado à ARENA, como partes que são de um sistema partidário artificial.

Partindo do reconhecimento dessa situação, consideram aqueles oposicionistas que o MDB prestará muito maior serviço à redemocratização do País canalizando para o quadro institucional o descontentamento com o atual estado de coisas, do que ficando restrito às atividades parlamentares propriamente ditas, que são um dos aspectos – e não o único, ou mesmo o principal – da atividade partidária, que nelas não deve esgotar-se, mormente na situação que ora atravessa o País.

A esse respeito, mostram aqueles políticos que uma “atitude contemplativa” do MDB apenas propiciará o desvio do descontentamento para outros canais, de rumos imprevisíveis.

E lembram, a título de exemplo, que a Frente Ampla [movimento em prol da efetiva redemocratização idealizado pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek e seu ex-adversário histórico Carlos Lacerda, a que depois aderiram o ex-presidente João Goulart e várias outras personalidades] começou a ganhar alguma densidade justamente por desenvolver um trabalho “extra gabinete”.

Por outro lado, assinalam que se o MDB mobilizar-se apenas para combater medidas como a vinculação do voto e a sublegenda correrá o risco de caracterizar sua atuação como visando, em primeiro plano, a sobrevivência de seus membros. 

Em consonância

Não se trata, segundo explicam aqueles setores do partido, de ter-se a pretensão de que o MDB encabece e una todas as correntes de oposição do País, mas de colocar a agremiação “pelo menos em consonância com elas”, segundo o líder Mario Covas.

Os principais membros do MDB reconhecem que o partido  sofre de um mal estrutural: foi criado praticamente por decreto, com a função especifica de “ser oposição”, uma oposição contestadora, e não um partido político normal, que possa aspirar ao poder sem provocar crises.

Cabe agora, uma vez reconhecida essa situação, que os oposicionistas mais atuantes confiram ao partido a posição de força política com iniciativa própria, que não se limite a agir em resposta a investidas antidemocráticas e que desempenhe, efetivamente, o papel de elemento polarizador de pelo menos parte dos opositores ao “status quo” institucional.

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Assinalada em azul, reprodução da matéria publicada. © Reprodução

Comissão

Os emedebistas que se enquadram nessa linha de pensamento responsabilizam a direção partidária em muito pela situação que o partido atravessa, menos por má fé do que por um imobilismo decorrente da falta de convicção oposicionista.

O primeiro caminho normal que descortinam para a dinamização do MDB é a estruturação em bases realísticas da comissão de mobilização popular, mesmo que à revelia do gabinete executivo.

A comissão foi criada por convenção do partido, e prescinde de ulteriores deliberações para que possa iniciar seu trabalho. Ainda que reconhecendo o vezo burocrático que poderá impregnar a comissão, os oposicionistas acreditam que seu efetivo funcionamento  poderá ser o primeiro passo para conferir ao MDB a representatividade de que carece. 

Frente

Fonte parlamentar comumente identificada como porta-voz militar assinalava, hoje, que o governo tem a firme intenção de manter o regime, mas que o futuro comportamento da oposição ditará, em última análise, os  rumos  a serem tomados.

Se o MDB encampar as teses da Frente Ampla contra o regime, por exemplo, assinalava – as consequências “não são previsíveis”.

(Artigo de Ricardo Setti publicado no jornal O Estado de S. Paulo a 11 de abril de 1968 sob o título original “Dilema da oposição”)

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