Não é apenas em guerras que os jornalistas enfrentam o perigo da morte trabalhando, ou, em países como o nosso, fazendo a cobertura de temas cabeludos como a ação do crime organizado e, especificamente, das milícias.
O caso do jornalista britânico Dom Phillips, assassinado em junho de 2022 junto com o indigenista brasileiro Bruno Pereira – vítimas de uma emboscada enquanto viajavam de barco pela região do Vale do Javari, terra indígena no oeste do Estado de Amazonas – integra um relatório recente da ONG Repórteres sem Fronteiras relatando que em muitas partes do mundo os jornalistas encarregados de cobrir temas de meio ambiente enfrentam graves desafios.
Na última década 200 jornalistas foram vítimas de algum tipo de violência – desde agressões até ameaças de morte –, estima o relatório, enquanto 24 foram assassinados na Ásia e na América Latina, as duas regiões mais perigosas para o jornalismo que cobre a devastação de florestas, a poluição dos rios e os enormes prejuízos sofridos pelas populações das áreas objeto de cobiça.
“Desde a restrição de acesso à informação até os assassinatos, a imposição do silencio e as agressões físicas, o trabalho dos jornalistas ambientais e sua segurança estão cada vez mais ameaçados”, diz o documento,“RSF denuncia as restrições à liberdade de informação sobre questões de meio ambiente e climáticas e pede a todos os Estados que reconheçam o caráter vital do trabalho dos jornalistas dedicados ao tema e garantam sua segurança”.
A Índia é um caso particularmente dramático: 13 jornalistas dedicados ao meio ambiente foram mortos, em ações ligadas ao crime organizado, como a chamada “máfia da areia”, que exporta ilegalmente milhões de toneladas de areia de alta qualidade para a indústria de construção.
A Amazônia é mencionada como região de risco, com jornalistas que cobrem sobretudo a devastação da floresta “também ameaçados e submetidos a pressões diárias, que lhes impedem de exercer sua profissão com total liberdade”. O assassinato de Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira “ilustram a magnitude do problema”. (…) “Diante dos desafios ambientais e climáticos a que nos enfrentamos”, prossegue o texto de RSF, “a liberdade de informação sobre este tema é crucial. As equipes de Repórteres sem Fronteiras trabalham incansavelmente para garantis que os interesses econômicos ou políticos não interfiram no direito [da sociedade] à informação”.
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O mandante dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips é da Colômbia.
(Post de Ricardo Setti, de São Paulo, publicado a 23 de abril de 2024)