
Muitos leitores se mostraram especialmente interessados pela questão do terrorismo no País Basco após o anúncio do “fim definitivo” das “ações armadas” da organização terrorista ETA.
Com a intenção de enriquecer a discussão sobre este tema, selecionei trailers de alguns bons filmes que abordam a questão basca sob diferentes ângulos e aspectos, também variando de época. Infelizmente não há legendas, mas comento um pouco de cada título para ajudar na contextualização.
A Pelota Basca – Pele contra a Pedra (2003), de Julio Medem
Nascido na linda San Sebastián, “o Rio de Janeiro do País Basco”, o eclético Medem, que pouco antes atraíra atenção mundial com Lucía e o Sexo (2001), debruçou-se sobre o assunto-tabu de seu povo em um documentário com entrevistados de peso.
Participaram do polêmico projeto desde políticos espanhóis de quase todos os partidos (incluindo o ex-primeiro-ministro socialista Felipe González e o atual líder do governo basco, o também socialista Patxi López) a um ex-integrante da ETA, passando por parentes de vítimas dos terroristas. Repercutiu no Brasil, mas atualmente não se encontra em locadoras. Veja o trailer abaixo:
O Lobo (2004), de Miguel Courtois
Conta a fascinante história real de Mikel Lejarza, infiltrado pela polícia espanhola na ETA durante os últimos meses da ditadura do general Francisco Franco (1939-1975). Lobo, como era chamado pelos agentes, fez um grande estrago na organização e contribuiu para a prisão – e posterior execução, ainda vigente durante a ditadura – de importantes dirigentes etarras.
Acabou sendo desmascarado e, dizem, vive clandestinamente até hoje com novos rosto e documentos. Basicamente um filme de ação, O Lobo ganhou a rota comercial e chegou ao mercado brasileiro no formato DVD.
Todos Estamos Invitados (2008), de Manuel Gutiérrez Aragón
Interessantíssimo relato sobre a terrível rotina de quem vive – ou vivia, até o recente anúncio – ameaçado de morte pela ETA. No caso, a de um professor cujo pecado mortal é, sendo basco, divergir dos separatistas violentos.
O filme mostra muito bem por que, no País Basco, temas políticos são uma raridade nas conversas entre as pessoas: em uma das cenas, um amigo ameaça o outro de morte com uma metáfora inequívoca, e os demais ocupantes da mesa fingem não escutar.
Aqui também o telespectador conhece o método favorito de assassinato etarra: disparo à queima-roupa, pelas costas, de preferência na nuca. Inédito no Brasil.
La Casa de mi Padre (2009), de Gorka Merchán
Melhor ainda que o longa anterior – e igualmente sem versão brasileira – La Casa de Mi Padre vai na mesma pegada, esmiuçando o cotidiano de envolvidos com o terrorismo basco e exibindo o quão complexo pode ser o problema, ao estar inserido, sob a forma de apoio ou simpatia, em praticamente toda a sociedade basca.
Em uma mesma família convivem um vereador arbetzale (a formação esquerdista independentista que nunca condenou a violência da ETA), seu irmão que acaba de regressar após anos de autoexílio na Argentina – para onde migrou por ser ameaçado de morte -, o filho envolvido com a kale borroka (violência de rua praticada por jovens simpatizantes, em geral em sintonia com a ETA) e a cunhada, separatista radical, que venera o irmão etarra morto pela polícia.
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Recomendo zorion perfektua (Perfeita Felicidade) ótimo filme.
Magnificas recomendaciones. Si alguien quiere entender qué pasa en Euskadi, por qué hemos vivido el infierno que hemos vivido, recomendamos encarecidamente ver La Pelota Vasca de Medem. No solo hablan familiares de victimas, hablan vicitmas como Madina (PSE) que perdio una pierna en un antentado, o perosnas que han sufirdo torturas. Es una magnifica fotografía de lo complicado que es este pequeño País. Es verdad, tiene un problema, no es un trabajo de "buenos y malos" sino una recopilación de opiniones y hechos. Puede que por eso politicos del PP o cercanos a ellos se negaran a participar. Saludos desde el País Vasco
Prezado Setti. Creio que apresentar alguns fatos relacionados ao terrorismo do ETA de forma alguma desfaz ou menospreza o trabalho do blog (do qual sou um leitor assíduo) principalmente porque nao fiz juízos de valor sobre os filmes mencionados, pois nao os assisti. O que quis ressaltar em meu comentário foi apenas que, independente ou acima da qualidade dos filmes, está a questao de fundo dos assassinos do ETA, cuja existência e atuaçao nos últimos 50 anos sem dúvida pode ser vista por meio de filmes e romances, mas nao pode deixar de ser entendida sob a ótica dos fatos. De qualquer forma, considerando que meu texto possa nao ter sido claro o suficiente nesse sentido, reitero aqui que minha intençao nao foi a de desfazer de seu trabalho. Um abraço, Eduardo. OK, Eduardo, sem problemas. Só queria dizer, por último, que todos estes filmes são baseados em fatos. O primeiro listado, inclusive, é um documentário. Abraço
Nao precisa de filmes para entender, pois o ETA (e seus próceres, apoiadores e barços políticos!!) é uma organizaçao terrorista que já matou quase 900 pessoas inocentes, com tiro na nuca e bombas, nao condenam o uso da violência, promovem a extorçao e o medo e privam as pessoas que nao pensam como eles de liberdade e do estado de direito, e que, ainda por cima, quer implantar uma república soviética naquela regiao da Espanha. Simples. OK, Eduardo, mas procure não desfazer do trabalho que oferecemos aos leitores. Os filmes são ótimos.
Amigão, perdoa o e-mail abaixo está lotado de erros de digitação. Campeão!
Caro Setti, não recebo para babar nos seus posts, nem sou o Justin B., mas tebnho que me curvar à sua realeza. Vc é o cara! Gosto muito de "Adeus Lenin", A Vida dos Outros, O Grupo Baader Meinhof... Mas temos que pretar muita atenção na inversão de valores, certos diretores têm o dom de transformar crápulas em mocinhos. Abs, Você tem absoluta razão. Precisamos ficar atentos, sim. Um abração e obrigado pelas boas palavras.