Um grupo de parlamentares da ARENA – entre os quais se encontram os senadores [e ex-governadores] Carvalho Pinto [SP] e Nei Braga [PR] e os deputados Rafael de Almeida Magalhães [GB] e Gilberto Azevedo [MG] – está providenciando a elaboração de estudo, de grandes proporções e sem maiores compromissos com o tempo, sobre a situação do País.
Deverá ele conter os diagnósticos sobre cada um dos problemas setoriais da vida nacional e o esboço de planejamento global das diversas soluções que deveriam ser adotadas, para que o Brasil possa incluir-se na relação dos países plenamente desenvolvidos.
O trabalho conta com o assessoramento de uma equipe das mais qualificadas – em que se contam os economistas Mario Henrique Simonsen e Gerson Augusto da Silva – além de sociólogos e urbanistas. Os responsáveis pelo estudo pretendem colher subsídios e sugestões, em escala mais ampla possível entre os intelectuais brasileiros, no clero, entre os militares e, posteriormente, no meio estudantil.
Uma vez concluído – e seus responsáveis não propuseram qualquer prazo para tal – o estudo, com suas conclusões, será encaminhado à direção da ARENA, como “contribuição desinteressada”, e poderá ser submetido “a este ou ao próximo presidente da República”, segundo declarações de seus idealizadores.
Dificuldades
Os parlamentares, que se propuseram a essa tarefa, têm consciência da magnitude dos problemas a serem vencidos e das limitações a que ficarão sujeitos, diante da vastidão e complexidade dos assuntos que serão tratados, bem como das dificuldades para se atingirem as conclusões e propostas às soluções.
O que os moveu, contudo, foi justamente a percepção de lacunas no que se refere a um planejamento a longo prazo sobre cada um dos setores da vida nacional e sobre os rumos a serem propostos para cada um deles, visando, diante das diversas alternativas, a chegar ao melhor caminho para afirmação do País no contexto das grandes nações civilizadas.
Entendem os membros do grupo que os governos, por mais que se esforcem, veem-se compelidos a estruturar programas limitados pelos mandatos e, principalmente, pelas necessidades mais prementes. Não há, dessa forma, nenhum estudo de grande âmbito, prospectivo, sobre quais seriam os reais objetivos do País e a melhor maneira de atingi-los.

Análise
O estudo ora em elaboração pretende analisar detidamente a indústria e a agropecuária nacional, o sistema de comunicação e transportes, o complexo energético e quais os critérios que nortearam sua implantação, a situação do ensino e da pesquisa no País, o desenvolvimento da tecnologia e das ciências exatas, partindo do entendimento que nem sempre se tem atendido às conveniências nacionais, face ao imediatismo e à falta de uma programação coerente com todas as exigências do País.
Átomo
No campo da energia nuclear, por exemplo, são acordes os parlamentares e técnicos de que o País não pode perder tempo com relação às demais nações, pois seria abdicar de seu lugar futuro como potência.
O Brasil deve, segundo o mesmo pensamento, estar em condições de fabricar a bomba atômica e ter uma política perfeitamente definida nesse campo, principalmente com emprego maciço de recursos no desenvolvimento de centros de ensino e pesquisa, embora o único objetivo seja a utilização pacífica do átomo.
Os responsáveis pelo trabalho preocupam-se em desvincular sua iniciativa de qualquer propósito de crítica ao atual governo e, mesmo, de qualquer objetivo político – partidário. Tudo se restringe, segundo fazem questão de ressaltar, à intenção de preencher um vácuo, sem a pretensão de propor soluções definitivas ou infalíveis.
(Este texto foi publicado originalmente a 25 de janeiro de 1968 no jornal O Estado de S. Paulo, numa página considerada nobre, a página 3, onde o jornal divulgava seus editoriais e, no canto superior, à direita, dois textos que incluíam informação e algo de interpretação — um deles a cargo da sucursal do Rio de Janeiro, outro da sucursal de Brasília, denominados internamente “Destaques”. A falta de espaço por vezes obrigava a Redação em São Paulo a conferir títulos telegráficos aos textosm como é o caso deste.
Tive a honra de compartilhar deste espaço com grandes jornalistas no Rio, como, por exemplo, Villas-Boas Corrêa. O titular da seção em Brasília era o jornalista Evandro Carlos de Andrade, mas me cabia substituí-lo aos sábados ou durante alguma ausência.)
(Artigo publicado por Ricardo Setti, de Brasília, a 25 de janeiro de 1968 pelo jornal O Estado de S. Paulo, sob o título original de “Problemas do Brasil”)