O reitor da Universidade de SãoPaulo (USP), prof. Mário Guimarães Ferri, e o governador Negrão de Lima, da Guanabara, telegrafaram ao ministro da Justiça, sr. Gama e Silva, comunicando que adotaram providências para evitar e reprimir as atividades estudantis ligadas à realização do 29º Congresso da UNE, em resposta à solicitação do ministro naquele sentido.
O governador Negrão de Lima [MDB-RJ], da mesma maneira que o governador de Sergipe [José Rollemberg Leite, da ARENA], informou ainda estar entrosado com a Polícia Federal para impedir as manifestações estudantis.
Enquanto isso, em Santo André [SP], acredita-se que o Congresso da UNE está sendo realizado em algum lugar da região do ABC. Cerca de 150 delegados, com poderes especiais para deliberar, estariam em Santo André para o Congresso que, iniciado a 26 de julho, terminaria amanhã. Entretanto, as autoridades policiais, assim como líderes estudantis, desmentem a realização do Congresso ali. Paralelamente a isto, observa-se, em Santo André, certa movimentação de elementos esquerdistas, constando que Jacob Gorender, conhecido membro do Partido Comunista, foi visto na cidade.
ATUALIZAÇÃO
O Congresso da UNE, entidade declarada ilegal pelo regime militar, acabaria ocorrendo não em Santo André, como imaginavam as autoridades. Dividido em duas etapas, a primeira, clandestina, com um número reduzido de participantes, realizou-se no mesmo mês de julho da publicação desta nota, num convento em Vinhedo, a 460 quilômetros de São Paulo e, posteriormente, foi concluído em escolas e residências particulares.
No final, no dia 11 de agosto, estudantes, liderados pelo presidente da UNE, Luís Travassos, fizeram uma manifestação de 15 minutos na Praça da Sé, no centro de São Paulo, na qual falaram três oradores para duas centenas de jovens, apesar do grande dispositivo policial que fora mobilizado.
(Texto de Ricardo Setti publicado no jornal O Estado de S. Paulo a 30 de julho de 1967 sob o título original “Repressão já está preparada”
