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BRASÍLIA, 17 – Foi encerrado hoje o inquérito instaurado pelo Departamento Federal de Segurança Pública [órgão precursor da Polícia Federal] para apurar o sequestro e as torturas a que foi submetido o cidadão grego Hipocratis Basilis Takapoulos pelo delegado federal Egberto Assunção, ex-chefe do Serviço de Diligências Especiais do DFSP. O presidente da comissão de inquérito instalada por ordem do general Riograndino Kruel, [diretor-geral do DFSP], delegado Walmores Victorino Barbosa, encaminhou a matéria à 1ª Vara Criminal de Brasília, de que é titular o juiz Juscelino José Ribeiro, aguardando-se para a próxima semana o oferecimento da denúncia contra o delegado e todos os seus colaboradores.

Delegado acusa

O depoimento que o delegado Assunção prestou ao delegado Walmores Barbosa [encarregado de inquérito sobre o caso no DFSP], em sua prisão no quartel de uma unidade do Exército, não foi divulgado, mas sabe-se que nele o delegado Assunção fez graves declarações, acusando seriamente de estarem envolvidos no caso diversas outras autoridades do DFSP, atacando ainda o próprio diretor-geral, general Riograndino Kruel.

O diamante

O diamante, parte mais controvertida de todo o caso e até agora de paradeiro ignorado, voltou à baila hoje: o advogado de Hipocratis, sr. Inezil Penna Marinho, informou haver solicitado na Embaixada da Grécia o envio do que o grego diz ser o “Diamante 007” ao Brasil, para que a gema possa ser juntada ao processo e constituir prova de defesa. Segundo afirma Hipocratis, como já foi divulgado, a pedra que ele recebeu do garimpeiro João Barbosa Sobrinho não era um diamante de 450 quilates, mas apenas um cristal de grande brilho que se teria partido em 7 partes em Atenas, sendo recolhido pela polícia grega. Hipocratis, desta forma, afirma ter sido enganado pelo garimpeiro João Barbosa Sobrinho quanto à autenticidade da pedra.

O deputado

Consta dos autos do inquérito instaurado pelo DFSP um telegrama do embaixador do Brasil na Itália, sr. D’Allamo Lousada, ao Itamarati, dando conta de que a Interpol do Brasil telegrafou à Interpol da Itália solicitando a detenção, em Roma, no início deste mês, dos cidadãos Romeu da Silva Pereira, do DFSP, Nicolau Happeniloldo e Luiz Bronzeado, deputado federal, segundo o telegrama “envolvidos em roubo de diamante”. Este é um dos indícios de que o DFSP tem, realmente, provas que incriminam o deputado paraibano da ARENA.

Bronzeado depõe na CPI

Teve lugar hoje, na Câmara, o depoimento do deputado Luiz Bronzeado (ARENA-PB) perante a CPI por ele requerida para apurar denúncias do DFSP sobre sua participação no caso, tendo afirmado que o diretor-geral daquele órgão, general Riograndino Kruel, “quis provocar escândalo e colocar mal um parlamentar brasileiro, ao dizer que fui a Atenas na falsa condição de agente da Interpol”.

Disse que realmente esteve na Grécia, mas atendendo a solicitação do próprio general Riograndino, do delegado Egberto Assunção e de outros patrocinadores do garimpeiro José Barbosa Sobrinho.

“O general Riograndino Kruel sabia de todos os passos do delegado Assunção, sabia que o grego Hipocratis Takapoulos fora conduzido para a minha fazenda, sem minha autorização”, disse o deputado. Segundo o sr. Bronzeado, o general sempre elogiava o trabalho desse delegado, chegando a falar que o sr. Assunção “desenvolvia um trabalho hercúleo”.

Na fazenda

Afirmou que o grego foi levado à sua fazenda, duas vezes, sem o seu conhecimento, pois estava fora de Brasília. Quem o conduziu, disse, foi o delegado Assunção, que sabendo do seu interesse na elucidação do caso, “agiu em confiança”, como lhe explicara depois. Acrescentou que reclamou contra a permanência de Hipocratis em sua propriedade e o ele foi dali retirado.

Atenas

Explicando sua viagem a Atenas, o deputado disse que foi à Grécia com seus próprios recursos (com 50% de abatimento, de que parlamentares gozam) pela VARIG, com passagem comprada em seu próprio nome. Durante sua permanência em Atenas, disse, não foi molestado pela polícia. Ficou na Grécia menos de três dias e foi recebido pela família de Hipocratei, “amigavelmente”, pois era portador de uma carta para sua mãe. Informou que o mapa feito pelo grego, do local onde supostamente estava o “Diamante 007”, de nada serviu, pois nada se encontrou, constatando que fora enganado.

Revelou que Hipocratis, depois de comprar o diamante do garimpeiro, viajou para Montevidéu e dali para a Grécia, com dinheiro que conseguiu emprestado com um patrício – o mesmo [cidadão] que foi preso há dias em Porto Alegre, contrabandeando ouro. Soube desses fatos, explicou, pela leitura dos jornais.

Documentos

[O deputado] pediu que a CPI requisite a cópia integral do depoimento do delegado Egberto Assumpção no DFSP, cópia do radiograma passado à Interpol, que o acusa de valer-se da falsa qualidade de agente da Interpol, e fotocópia de documentos sobre distribuição de propina, nos quais, afirmou, seu nome está citado. Insistiu em que esses documentos foram forjados pela polícia.

Solicitou, ainda, anexação de documento no qual o DFSP esclarece ao Supremo Tribunal que o grego não fora localizado em Belo Horizonte, “quando tal fato era público e notório”.

Afirmou, mais uma vez, que sua participação no caso deveu-se à sua qualidade de advogado do garimpeiro, “homem pobre e que foi enganado por uma quadrilha internacional de ladrões, depois de 40 anos de atividades nos garimpos”.

O presidente da CPI, deputado Dnar Mendes (ARENA-MG) vai convocar o general Riograndino Kruel para prestar depoimento na próxima semana.

(Matéria de Ricardo Setti, de Brasília, publicada no jornal O Estado de S.Paulo em 18 de junho de 1966 sob o título original de “Enviado à Justiça o caso do diamante”)

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