

O espantoso e terrível é que o gabinete de Israel já se haja reunido hoje, dia 6 de fevereiro de 2025, para planejar a execução. As deportações, nas palavras dos dois lados, serão “voluntárias”. É inacreditável que não se saiba que destino dar aos futuros sem-pátria, já que Egito e Jordânia rejeitaram a proposta desde o primeiro minuto.
Não bastasse o massacre impiedoso imposto há um ano e meio à população civil de Gaza como represália aos atentados, por todos os títulos hediondos, cometidos pelo grupo terrorista palestino Hamas a 7 de outubro de 2023, que matou de forma ignóbil 1.200 cidadãos israelenses e tomou 251 como reféns. A punição coletiva a 2,1 milhão de palestinos em Gaza violou todos os tratados e convênios internacionais sobre a guerra e o respeito aos direitos humanos.
As transferências forçadas de população foram rotina na sanginária ditadura de 31 anos de Stalin à frente da ex-União Soviética. Como parte de sua política de terror permanente, executou essas medidas muitas vezes contra grupos étnicos sob o pretexto em geral falso de “deslealdade” e “colaboração com potências estrangeiras”. Os exemplos são muitos, entre os quais contra:

Os Tártarios da Crimeia (1944): deportados da Crimeia – região rodeada pelo Mar Negro posteriormente transferida para a Ucrânia e, em 2014, conquistada militarmente pela Rússia de Putin – para a Ásia Central, principalmente o Uzbequistão, a região dos Urais e a Sibéria. Alegação, falsa: colaboração com a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
O ditador mobilizou, segundo historiadores 32 mil agentes da NKVD, a polícia secreta precursora da KGB, que se encarregaram da prisão em massa e do transporte. A deportação foi brutal: condições terríveis, que incluíram doença, fome e falta de meios nos destinos forçados, e resultou na morte de cercade 40% do total nos primeiros anos.
Chechenos e inguches (povo de uma República soviética vizinha à Chechênia), em 1944: centenas de milhares de pessoas foram forçadas à realocação do norte do Cáucaso para o Cazaquistão e o Quirguistão sob a mesma acusação falsa: cooperar com os nazistas alemães.
Alemães do Volga (1941): vivendo desde o século XVIII no Sudeste da Rússia — descendentes de imigrantes que foram convidados a se estabelecer na região pela imperatriz Catarina, a Grande, que era de origem alemã — foram deportados para a Siberia e o Cazquistão logo após a invasão da Rússia pelos nazistas, acusados de serem, simplemente por sua origem, “uma ameaça à segurança” do país.
Minorias étnicas pouco conhecidas fora da ex-URSS como os caralpaques, os calmucos e os balcares, fixados nas regiões do Cáucaso e do sul da Rússia, viram-se entre 1943-1944 despachados para a Sibéria e o Kazaquistão por alegada “traição”.
Coreanos (1937): Cerca de 170 mil coreanos vivendo próximos à fronteira da então URSS com o Japão foram forçados a viver na Ásia Central, principalmente no Cazaquistão e no Uzbequistão, por temor de fazerem espionagem para o governo japonês.
Poloneses (1939–1941): Depois da invasão da Polónia pelos nazistas, fato que iniciou a II GUerra Mundial, dezenas de milhares de poloneses foram enviados para uma estreita faixa de território no sul do país, para a Sibéria e o Cazaquistão.
Povos bálticos (estonianos, letões e lituanos): nos anos 40, após a anexação pela URSS dos Estados bálticos, muitos habitantes dos três países foram exilados na Sibéria ou transferidos para os tenebrosos Gulags, campos de concentração que eram uma ante-sala para a morte por fome, frio e doenças..

Quanto a Adolf Hitler e o regime nazista, eles também executaram transferências maciças de populações durante o Terceiro Reich (1933-1945), como parte de seus objetivos ideológicos, raciais e geopolíticos, tendo como motivação a suposta “superioridade racial” dos alemães, o objetivo de Lebesraum, ou “espaço vital” (aumentar o espaço físico da Alemanha) e a tentativa de “germanizar” territórios conquistados.
Alguns exemplos:
Generalplan Ost (1941): Plano detalhado e minucioso destinado à “limpeza étnica” e troca de populações na Europa Oriental, com o objetivo de exterminar milhões de judeus, eslavos e outros grupos “indesejáveis” para ceder lugar a “colonos” alemães.
Germanização do territórios anexados: Em áreas domo Warthegau, na Polônia ocidental, a população foi expulsa para que alemães se estabelecessem.

Deportação de poloneses e judeus: Maciças trasnferências de populações de poloneses, cristão e judeus, de territórios anexados à Polônia rumo a campos de concentração e extermínio ou a guetos, como os de Varsóvia e Lódz. .

Limpeza étnica nos Bálcãs: Os nazistas promoveram remoção de populações e “limpeza étnica” em regiões como a antiga Iugoslávia, muitas vezes com a colaboração de regimes títeres que instalaram em países ocupados, como o Ustase ou Ustashe na Croácia, presidido por Ante Pavelic, que fundou o movimento em 1929, quando exilado na Itália fascista
Nem é preciso dizer que as transferências forçadas de população causaram imenso sofrimento — e no mais dos casos a morte — de milhões de pessoas. Enquanto as brutais transferências de pessoas praticadas por Stalin na URSS foram justificadas como “estratégicas”, “políticas” ou em nome da “segurança nacional”, as praticadas pelos nazistas eram intrinsicamente genocidas, voltadas principalmente para o extermínio dos judeus (“a solução final do problema judaico”), que o nazismo, desde a publicação do livro Mein Kampf , de Hitler, em 1925, responsabilizava os judeus pela maioria dos males que afligiam a Alemanha do pós-I Guerra Mundial, o que levou ao Holocausto e, também, ao extermínio de outros grupos, como ciganos, homossexuais ou pessoas com deficiências físicas e mentais.
Este é o quadro no qual deve ser vista a proposta de Trump sobre os palestinos de Gaza e a disposição de Israel de implementá-la
4 Comentários
Excelente artigo, claro, oportuno e corajoso. Parabéns, Ricardo
Muito obrigado por sua leitura e seu comentário, prezada Maria Isabel. Volte sempre. Um abraço
SettiJá basta o que sofreram nessa guerra insana .Voltam para a região com tudo arrasado .Parabéns Ricardo Setti
Concordo totalmente com você, Anete. Obrigado pela leitura e pelo comentário. Um abraço!
Setti